Após a recuperação, Edward
arrumou sua postura, mas uma pergunta ficou em sua mente.
– Parysas, se você estiver
sem esse colar, isso não vai impedi-lo de usar magia?
— Não seja por isso, caro
amigo. – Ele contrapôs de forma amistosa. – Lembre-se que para usar magia, precisa-se de uma ligação
entre os planos mágicos ou ao plano divino. No meu caso, eu tenho uma
“ligação natural” com o plano mágico.
— “Ligação natural”?
– Algo que me escolheu para
isso, um dom que poucos usuários de magia conseguem ter. – Parysas olhou
vagamente para suas mãos. – E algo que eu nem ao menos sei o porquê eu tenho. –
Finalizou com um fechar casual de seus olhos.
– Se você possui essa ligação
com o mundo mágico porque carrega um colar? – Edward questionou, ainda mais
curioso.
– Não sei como esses poderes
tiveram origem, mas tenho medo que ele um dia acabe, então carrego esse colar
por garantia.
— Isso é uma boa ideia, se
posso dizer.
— Foi ideia da Sansa na
verdade. — Afirmou Parysas, coçando a cabeça vagamente.
— Ela também possui tais
habilidades? — Perguntou Edward, admirando o colar que usava.
— Sim, praticamente o mesmo
caso aparentemente. — O paladino real desviou o olhar. – Mudando de assunto,
existe uma outra forma de ligação com os planos mágicos.
— Uma outra?
— Sim, quando um Deus decide
emprestar seu poder diretamente e por vontade própria a alguém, essa forma é
conhecida como Milagre.
— O próprio deus decide?
— Bem, eu não posso falar
muito, nunca nem presenciei tal evento, mas me baseio em relatos para falar
sobre eles. – Parysas afirmou um pouco avoado. – Uma parte temporária do poder
de um divino, os milagres dão habilidades mágicas mesmo para quem não tem fé ou
o dom de manusear magias, pelo menos eu acho. Incrível não?
— Realmente. – Edward confirmou com um brilho no olhar. – Com tanta coisa não sei nem ao menos por onde
começar.
— Verdade, eu devia lhe
ensinar o básico hoje. – Parysas afirmou animado. – Bem, para iniciarmos
sente-se.
Edward dobrou as pernas no
chão e ficou apenas olhando a figura de Parysas, que andava de um lado para o
outro enquanto falava.
— Tenho dois avisos antes de
começarmos. – O tom sério de sua voz iniciou o verdadeiro treinamento dos dois.
– Primeiramente você deve saber que todos podem invocar magias divinas se
tiverem a concentração e os requisitos necessários, mas só os que possuem a fé
no deus que está emprestando a energia da magia podem moldá-la e ou usá-la como
bem entender, desde que não interfira em seus princípios como paladino ou com
os princípios do Deus em questão, para magia branca e negra são outros quesitos.
— Então se por algum motivo
eu perder a fé eu não vou conseguir usar magias... certo. — Respondeu Edward, enquanto refletia sobre o que havia sido dito.
— Na verdade é um pouco mais
extremo do que isso. — Alertou Parysas rapidamente. — Quando a magia é
invocada, mas não é moldada, ela entra em um estado de perda de controle. A
energia da magia fica sem ter para onde ir e acaba explodindo, podendo ferir a
quem a conjurou principalmente.
Edward se assustou com os
dizeres do colega paladino e começou a tremer vagamente, pensando que poderia
morrer apenas treinando casualmente.
— O quê!? — Ele perguntou, assustado.
— Uma explosão de tamanho
médio poderia até quebrar vários ossos ou arrancar um membro fora em alguns
casos. — Acrescentou Parysas, preocupando mais ainda o elfo. — Mas por agora, não
se preocupe com isso, somente com quem não possui fé isso ocorre. Em paladinos
normalmente o máximo que pode acontecer é magia não ser invocada ou falhar no
acúmulo de energia.
Edward se acalmou após ouvir
a explicação do amigo, suas mãos pararam de tremer e uma leve confiança
despertou em seu peito.
— Qual o próximo aviso? — Perguntou o paladino, rezando mentalmente para não ser algo tão ruim quanto
o último aviso.
— A segunda coisa que você
deve saber é que, como você não é acostumado ao uso de magias, as primeiras
vezes que as utilizar, você vai sentir um cansaço enorme, junto com uma dor de
cabeça forte. – Parysas falou de forma calma e serena. – Vai ser assim
pelos primeiros meses. Isso se deve pelo constante foco de sua mente mantendo a
magia e o sangue que você irá perder por ela necessitar de sua resistência
física. Trate como um exercício muscular ou algo do tipo para entender melhor.
Edward ficou pensativo sobre
essas condições, não eram tão ruins se fôssemos ver de cima. Algo como “precisa
primeiro se acostumar com o uso delas” era mais comum, aceitável e previsível
do que “quase explodir se perder sua fé”.
— Para evitar isso é só
treinar as invocando diariamente... — Murmurou Edward, pensando em voz alta.
— Exato! — Respondeu Parysas, animado. — Agora que sabe o básico, vamos para os elementos.
— Elementos, certo. — Concordou
Edward, mesmo não sabendo sobre o assunto.
— A magia em geral usa como
base cinco elementos iniciais.
Manifestando cada feitiço de forma básica,
Parysas começou a explicá-los.
– O Fogo, que se baseia no
calor de chamas alheias ou na energia emanada do corpo, é mais efetivo ao dia
do que a noite, serve para emanar energia em forma de chamas e molda-las
vagamente. – Realizando uma pequena esfera de fogo flutuante, Parysas a jogou
de um lado pro outro casualmente.
Após uma pequena pausa, ele
continuou.
– O Ar se baseia na
circulação do vento e domínio do oxigênio, é recomendado para espadachins e
pessoas que necessitam de ataques rápidos, pois pode aumentar a velocidade do
usuário ou de sua arma. – Desfazendo a pequena esfera de fogo, Parysas invocou
um tornado em miniatura que vagava pela palma de sua mão de forma estável. –
Inclusive, é o que eu me baseio para meus ataques.
— Seria interessante vê-los
depois.
— Depois eu lhe mostro. –
Parysas afirmou de forma carismática e amistosa.
Desfazendo o tornado, Parysas
se abaixou para pegar um pouco de terra molhada do chão.
– A terra se baseia no
controle do solo, de pedras e minerais. – O pouco que estava em sua mão se
forma como um espinho solido, abandonando o aspecto molhado que possuía. –
Funciona melhor em campo aberto ou fora de cidades. Devido à pouca presença de recursos
é mais recomendável para quem usa Davi Golias e armas pesadas para que elas
afetem a área de impacto no caso de um erro de posicionamento.
Parysas jogou o espinho de
terra no chão e em seguida focou no ambiente ao seu arredor, tirando dele uma
esfera de água do mesmo tamanho da de fogo que invocara antes.
– A água se baseia no
manuseio de líquidos e umidade, podendo até ser retirada de ambientes úmidos em
casos improvisados e estratégicos. Normalmente é usado por curandeiros para acelerar
o fluxo sanguíneo de uma pessoa, fazendo-a se recuperar mais rápido, mas nas
mãos certas pode ser usada para ataque envolvendo a manipulação
corpórea, também pode ser usada como forma sólida em uma espécie de manipulação
secundária de gelo.
— Voltten diz que controlava um pouco a água e o fogo.
— Isso é bom, ele pode
aprender feitiços de cura com facilidade.
— Isso pode vir a ser bom..
— Agora o último e mais
importante elemento. – Parysas desfaz a esfera de água, mas dessa vez não ilustrou
nada. – A verdadeira Aura ou Energia. Normalmente usa-se o termo “aura” para se
referir a inúmeras coisas referentes a magia, mas nesse caso é algo
extremamente especifico. Ele não pode ser usado em magias divinas e a teoria de
sua criação é uma enorme serie de esforço imposto para emular magias de deuses
mortos. É o principal elemento usado em magia negra e branca, se baseando no
domínio do universo e em suas propriedades, é dele que saem feitiços insanos e
como: ler mentes, invocar espíritos, criar objetos de diferentes materiais,
reforçar armas, enfim.
Parysas afirmou de uma forma
levemente mais séria que o normal.
– Os que dominam esse
elemento com maestria tendem a ser considerados, por alguns, como semideuses,
mesmo sem poderes dos mesmos. Sem nenhum limite e quase sem nenhum requisito,
essa é a força mais poderosa que se tem registro.
— Quase sem nenhum requisito... o que seria esse quase? — Questionou
Edward, impressionado com tal poder.
— O único requisito é que o
usuário que a usa deve estar vivo de certo modo. – Parysas afirmou de forma
indiferente. – Mas é possível que nem a morte seja capaz de parar alguém assim.
— Então um profissional que
controla a Aura é praticamente imortal? — Perguntou Edward, levemente arrepiado.
— Compreende o porquê usuários
de magias brancas e negras serem tão temidos? — Disse Parysas, deixando seu
sorriso de lado e ficando com um tom sério em sua voz. — Não é à toa que Yeshua
e Lúcifer são os Deuses mais temidos no mundo como um todo.
Parysas recuperou o ânimo e
reconstituiu seu bom humor, que era típico e começava a se tornar assustador
para Edward, que sempre percebia as alterações de humor do amigo.
— Sansa seria mais forte que
você então.
— Não exatamente. – Parysas
afirmou de forma atrapalhada. – Ela é forte sim, mas eu diria que seu poder
seja mais mental que físico e não tão direto.
– Compreendo...
– Por agora você deve pensar
em qual elemento quer focar e depois qual magia do elemento quer se focar. Comece
pensando no que você quer fazer como paladino.
— O que eu quero fazer? — Se
perguntou Edward, colocando seus dedos em seu queixo e contemplando o
horizonte. — Fogo seria bom, mas por depender do sol pode ser um problema. O ar
também viria a calhar, porém ele depende de uma espada e eu posso não estar
apto a estar com uma a todo momento. Terra é descartável por envolver armas
pesadas, e água é uma incógnita para mim, ela pode ser útil, mas Voltten já tem
o controle desse elemento. Perderíamos possibilidades de possuir novas opções
no futuro...
— Edward... – Falou Parysas, atrapalhando o pensamento do amigo que continuava a olhar para o nada por
longos minutos. — Já se decidiu?
— Ainda não. Estou entre ar e
fogo na verdade... – Ele afirmou de forma vaga.
— São dois muitos bons. Quer
me ver usando o ar para ter uma ideia? — Sugeriu Parysas.
— Seria ótimo! — concordou
Edward fazendo um “sim” com a cabeça. — Por favor.
Parysas se afastou do amigo e
focou seus olhos em um boneco de treino que estava isolado do resto, quase fora
da área de treino. O paladino sacou uma de suas seis espadas e respirou fundo
por alguns segundos.
— Sabes, senhor, que eu não sou o merecedor de sua bondade...
— O paladino real começou a orar com calma.
Edward viu uma espécie de
nuvem verde se formando nos pés de Parysas que continuava encarando o boneco de
treino. Fortes correntes de ar começam a puxar vagamente Edward na direção do
amigo, mas não conseguiram movê-lo devido ao seu peso. Mesmo assim ele as sente e
apenas temia o que Parysas estava fazendo.
— ...Que não sou aquele que lutara pelo senhor... — Toda a energia
que Parysas acumulou recitando a oração explodiu, semelhante às portas das celas
que haviam sido abertas pelo poder mágico do paladino real anteriormente. Porém,
diferente das portas que foram empurradas pelo ar, Parysas foi arremessado aos
céus.
Os olhos de Edward não
acreditavam no que viam, mas ele não podia negar o que estava acontecendo.
A terra que foi puxada junto
com Parysas caiu lentamente, enquanto o paladino continuava mantendo seu foco no
boneco feito com um saco de batatas.
A metros de diferença, Edward
perguntou-se se isso era normal, enquanto via o amigo que em questão de
segundos tinha levantando voo.
— ...Ou que morreria por você... – Parysas recitou essas palavras,
enquanto arremessava sua espada com sua mão direita, como se ela fosse uma
lança. A arma perfurou em cheio o que seria o “peito” do boneco de treino que
acabou por ganhar novos furos.
Edward percebeu o objeto que
foi arremessado e quase decidiu intervir, ato esse que não realizou por medo.
— .... Não sou um homem que pode se chamar de digno, — Parysas continuou a
recitar, flutuando no céu quase limpo.
As espadas que antes estavam
guardadas em suas determinadas bainhas localizadas na cintura do paladino real foram
expelidas para fora e flutuavam junto com o mesmo na mais pura e divina representação
de um guerreiro alado.
— Mas meu coração visa o bem e minha espada a justiça... — Com um
leve apontar da palma de sua mão, Parysas fez todas as espadas que estavam
flutuando giraram, formando um círculo em volta de si.
Segundos após isso, elas pararam
e com um golpear no ar surgido de suas lâminas, enormes laminas verdes em
formato de linhas que percorram os ares e atingiram o boneco de treino em
questão de instantes.
Tudo tinha
ocorrido em uma velocidade tão grande, que Edward mal havia entendido o que tinha acontecido após a espada, que estava sendo manejada por Parysas, atingir o saco
de batatas que agora, se resumia em vegetais cortados e trapos jogados no chão.
Parysas caiu lentamente no
chão semelhante a um anjo descendo de seu voo, suas espadas flutuavam magicamente
de volta para suas bainhas, com a exceção da primeira que tinha sido
arremessada no boneco.
— ...Justiça essa que eu praticarei com minhas próprias mãos e que serás
espalhada por onde eu andar. E que assim seja feito vosso desejo, tanto nesse,
quanto em outro mundo. — Recitou Parysas, de uma forma tão rápida que fez
parecer que estava contendo sua língua para falar. Após tal ato de cacofonia, o
paladino real recuperou o fôlego lentamente.
— Você nem chegou a terminar
a oração... — Disse Edward, ao reparar no que Parysas acabara de recitar.
— Como? — perguntou o
paladino real.
— Você disse que os paladinos
reuniam energias a partir de orações. – Edward afirmou sem palavras. – Como que
você reuniu energias suficientes sem recitar a oração completa?
— Bem observado. — Elogiou
Parysas, acabando de recuperar o fôlego. —Imagine as orações como uma
espécie de copo, e a energia como um líquido. Quando o líquido enche o copo a
magia é invocada, o que eu faço seria algo como orar o necessário para que não
falte líquido, mas ainda prefiro terminar a oração por respeito... entendeu?
— Bem... — Edward colocou a
mão em seu queixo e começou a raciocinar. — Seria algo como não precisar recitar
a oração completa porque você já reuniu as energias suficientes para a magia na
metade dela.
— Exato! — Confirmou Parysas, impressionado. — Quando você desenvolver seus poderes provavelmente não vai
precisar recitar sua oração completa, isso economiza uns minutos de concentração,
mas você já se decidiu qual elemento quer se basear?
— Sim! — Afirmou Edward, se
levantando com confiança. — Acho que vou escolher fogo! Água já é dominada por
Voltten, terra pode vir a ser ruim e ar depende muito de uma arma, Fogo eu acho
que seria perfeito para mim.
— Ótimo! — Respondeu Parysas, animado. — Mas já pensou no que você quer fazer?
Edward teve um breve choque
mental e acabou voltando a ficar pensativo. Parysas percebeu que o amigo não
havia pensado no que queria fazer, ele se dirigiu ao que já foi um boneco
de treino e desgrudou sua espada e a guardou em sua bainha e após isso retornou
para Edward.
— Acho que queria algo que
proteja e que também sirva como magia ofensiva. — Sugeriu Edward, ainda
pensativo.
— Isso.... Isso é muito vago.
— Contrariou Parysas de forma realista. — Pense em algo mais objetivo.
— “Mais objetivo” ... hum? — Cochichou o paladino para si próprio, enquanto pensava. — Acho que algo que não
necessite de uma arma para funcionar totalmente, algo que não fosse muito
complicado e não exija muito esforço, assim eu posso a conjurar várias vezes
até me cansar eu suponho e que supostamente eu possa reunir todos seus usos em
um ataque maior.
— Certo, algo mais versátil,
irei procurar uns livros sobre magias de fogo hoje à noite. — Disse Parysas, olhando
para o céu com a palma da mão aberta em cima de seus olhos tampando o brilho da
estrela que não lhe atrapalha a visão. — Já deve ser meio-dia. O tempo voou
hem?
— É mesmo. — Concordou Edward, direcionando sua visão ao sol e sendo cegado por ele por breves instantes.
— Vamos fazer assim, por hoje
você tenta conjurar uma pequena chama, não vai ser desperdício de tempo e pode
vir a calhar. À noite descansaremos e, amanhã lhe trarei uma lista de feitiços
que se adequem ao que você pediu. Certo?
— Sim! — Confirmou Edward, totalmente disposto, mas logo ficando curioso. — Mas como irei iniciar essa tal
chama?
— É simples, veja! — Parysas
fez lentos movimentos com as mãos para demonstração. — Primeiro você une suas
mãos como se fosse fazer uma oração. Após isso, afaste as mãos normalmente, nisso
recolha seu anelar e mindinho e tente aplicar o máximo de energia nas pontas
dos dedos indicadores.
Edward seguiu o passo-a-passo
dos dizeres do amigo, mas não conseguiu resultado algum.
— Esse é um método simples
para treinar o elemento fogo. Tente focar ao máximo e se esforçar em dobro. – Parysas
comentou, incentivando o amigo.
— Entendi. — Falou Edward,
repetindo o processo sem alcançar nenhum resultado.
—
Talvez demore um pouco para isso acontecer. — Falou Parysas após um breve
suspiro. – Vamos lá, eu sei que você consegue!