Após um dia de intensivas magias, todos os
feridos se recuperaram completamente.
Edward olhou para o braço que tinha aplicado a
energia mágica e percebeu que o mesmo estava com as veias saltadas, mas nada
que a cura quase perfeita de Sansa e Voltten não resolvesse.
James
sentia seus órgãos estáveis. Sem dor ou fadiga, o arqueiro pôde se mover
livremente sem problemas.
Glans nem fora ferido praticamente. Apenas uma
junção dos tecidos de sua pele foi o suficiente para curá-lo. Sua carapaça
escamosa era semelhante à de uma forte armadura. Mesmo perfurando sua pele, os
órgãos ou ossos do draconato não foram atingidos.
Já o estado de Aquiles era diferente.
Após o corte, o cavaleiro desmaiou na hora, mas
sua alma permaneceu acordada. As correntes elétricas vindas de Edward remexeram
seu espírito que, a cada descarga, se expandia para seu corpo.
A magia curativa improvisada de Edward juntaram
a pele cortada e tecidos do cavaleiro, mas aquilo só foi o suficiente para
estancar vagamente o sangramento e unir sua carne como se estivesse a
remendando.
Aquiles sobreviveu com apenas três litros de
sangue e com um ferimento exposto. O elfo, mesmo sendo o que mais foi tratado
dos cinco, ainda sofria com a perda de sangue, que o deixava tonto com a
intercalação de pressão.
Uma grande e respeitável cicatriz decorava o
peito do cavaleiro agora. Sua pele de carvalho ganhara um corte horizontal no
peito, digno de um combate lendário, mas que foi feito tão gratuitamente que o
desmoralizou.
Junto daquele ferimento, um respeito foi
desenvolvido pelo paladino que o ajudou a tal ponto. Podia-se dizer que o
cavaleiro aceitou estar ao lado daquelas pessoas estranhas naquele momento.
Edward estava brincando com sua filha, enquanto
ainda estava sem armadura. A garota, mesmo possuindo poderes surreais devido a
sua aura, era humilde e sorridente.
Aquiles não tirou o foco dos dois. Mesmo com sua
armadura recém arrumada lhe causando um pouco de calor ou com os outros
companheiros em volta, a única coisa que importava para Aquiles era ver a
relação pura entre um renegado de guerra que perdera tudo e uma órfã que perdeu
a família.
Era como se um complementasse o outro. Edward
buscava em Crist o que ele não foi capaz de proteger e Crist buscava em Edward
o que a guerra o tirou antes mesmo de experimentar.
– E aí? –
James se aproximou de Aquiles lentamente, enquanto voltava sua atenção
para Edward também.
– Hum? – Murmurou Aquiles, voltando os olhos
rapidamente para o amigo.
– Quer cancelar a aposta? – James perguntou
cruzando os braços e se escorando do lado da cama que Aquiles estava sentado. –
Eu já ganhei mesmo, não vou gastar tudo em vinhos caros sendo que tem melhores
aqui no castelo mesmo.
– Ah, certo. – Aquiles afirmou direcionando sua
atenção para as palmas de suas mãos. – Ei, você acha que eu fiz uma estratégia
certa?
– Hum?
– Digo, eu não consegui golpeá-lo, por minha
causa ele conseguiu invadir.
– Na verdade a culpa foi mais minha. – James
afirmou após um breve suspiro. – Se eu não estivesse no teto da carruagem você
podia ter arriscado uma saraivada de flechas ou um fuzilamento preciso.
– Eu também não ajudar. – Glans se aproximou dos
companheiros. Sua panturrilha estava enfaixada e um pouco manchada, mas não
aparentava doer. – poderia ter atacado o cavalo.
Os dois riram sem graça.
– Acho que o máximo que nós fizemos foi atrasar
o ser encapuzado. – James afirmou cabisbaixo.
– No fim Varis fez todo o trabalho...
Os três suspiram de forma sincronizada.
A porta do local é aberta lentamente e as
figuras de Varis e Voltten apareceram para saudar e chamar os companheiros.
– Então todos estão acordados? – Perguntou
Varis, mesmo vendo o obvio.
– Ortros nos chamou. – O mago complementou
chamando a todos. – É melhor irmos agora, parece urgente.
Edward beijou a filha em sua testa e confiou a
segurança da mesma para seus aposentos no castelo. Após vestir sua armadura por
padrão, o paladino, meio tonto guiou seu grupo para a sala do trono.
Chegando lá, todos perceberam que Sansa, Parysas
e Ortros estavam conversando com o jovem que veio da carroça. Sagita também
estava lá, escorada no canto da sala, vendo tudo que acontecia.
— Bem.... Acho que estão todos aqui. — Disse
Ortros, chamando a atenção de todos os presentes.
— Ótimo! — Respondeu o Jovem, jogando seus
cabelos brancos para trás e tomando a palavra. Aos poucos todos se acostumaram
com sua presença e leve semelhança a aparência de Parysas. — Meus caros, eu
venho da Inglaterra para fazer um pronunciamento. Como já sabem, estes seres de
poderes incríveis apareceram do nada a alguns meses atrás. Pelos diversos
livros do instituto da magia, pelo meu conhecimento na área de divindades e
pelos casos semelhantes que eu já presenciei, eu posso afirmar... – o jovem deu
uma leve pausa o que só deixou seus dizeres mais pesados. – Essas pessoas são
avatares que constituem a alma original de Tac Nyna.
Aos poucos, todos assimilam a informação e se
chocaram, alguns mais que os outros.
Tais poderes eram de fato muito acima dos
padrões da magia, tanto que nem controlados eram, mas nunca havia sido cogitada
a ideia de uma reencarnação divina. Edward ficou mais apreensivo, dando um
passo à frente e se pondo em posição de perguntar.
— Com todo meu respeito senhor, que fundamentos
e lógicas você tem para falar isso?
— Compreendo seu medo, Edward. – Disse o jovem,
direcionando seu foco ao paladino. Ele respirou fundo e estufou o peito em
sinal de orgulho. – Eu sou o Mago Real da Inglaterra, fundador dos inúmeros
institutos de magia de meu país, principal representante de meu estado e
escolas, conhecido também como um dos Três Grandes Líderes. Caso sirva de
complemento, meu nome é Merlin. – Finalizou com uma fala egocêntrica.
— Merlin!? – Questionam Sansa e Voltten
simultaneamente, reconhecendo a imponência da figura do suposto mago supremo.
— Vejo que já ouviram falar de mim? – Ele
respondeu levemente orgulhoso ao falar.
— Na realidade não. — Comentou Varis colocando
os braços por trás da cabeça, de tal forma que não ficou aparente ser era
verdade ou mentira tal fato.
— O mesmo. — Completou Edward. – Mas parece
importante, eu acho.
— Como vocês não o conhecem? – Perguntou Voltten
indignado.
— A família dele é a responsável pelas
conquistas territoriais da Inglaterra. Ele é considerado o mais promissor
descendente nos últimos dois séculos. — Complementou Sansa, igualmente
impressionada pela visita do mago na capital.
— Bem... Prazer em conhecê-lo, eu acho. — Saldou
Edward, ainda um pouco confuso.
— O prazer é todo meu. — Respondeu Merlin,
continuando com seu sorriso orgulhoso em sua boca.
De fundo, James e Aquiles observavam com receio
enquanto se apoiavam em Glans e em sua figura imponente.
— Você disse que era um dos Três Grandes
Líderes... – Indagou Ortros, não tão impressionado com a figura e os status do
mago.
— De fato. — Respondeu Merlin, reconhecendo a
expressão do falso rei. – Junto de meus colegas Arthur e Kitsune.
— Então o que faz aqui?
— Digamos que vocês estão em um grande problema
em escala divina.
— Como? – Questionou Parysas preocupado.
— O terceiro “Escolhido”, classificaremos eles
assim para melhor entendimento, é um dos diplomatas da corte do próprio rei
Arthur, o mesmo me concedeu a permissão para trazê-lo para cá. Achei que por
ser algo divino, deveria intervir um pouco.
— Isso parece inacreditável demais – Retrucou
Ortros.
— Tratando-se do divino, tudo é possível meu
caro. — Ressaltou Merlin. — Mas enfim, baseando pelos níveis de energia que o
usuário que eu trouxe possui e pelos outros dois que estão aqui, o meu palpite
é que existam mais três escolhidos. – Ele começou a explicar de forma
simplória. – Baseado no que observei, eles se revelam ao mundo com uma certa
quantia temporal de diferença entre suas aparições.
– Então devemos achá-los... – Edward deduziu
rapidamente.
— Parece fácil falando, mas como vamos encontrar
essas pessoas? Elas não vão estar andando casualmente para nós encontrarmos. –
Questionou Varis de forma desleixada.
— Eu acho que consigo usar de feitiços para
localizá-los, talvez até antes dos demônios que vocês tiveram que enfrentar. Já
buscá-los ficou em suas mãos. Suponho que o rei tenha soldados de confiança
para mandar nessas missões, certo?
Todos olham para Ortros que, mesmo não sendo de
fato o rei, era a pessoa que tomava decisões em seu lugar.
— Edward, Varis, Voltten, Aquiles, Glans e
James, vocês ficarão responsáveis por isso. — Afirmou Ortros, após raciocinar
brevemente.
— Como? – Perguntou Aquiles levemente intrigado.
— Vocês são os soldados que mais possuem
capacidades para realizar isso.
— Tem certeza? – Questionou Voltten, levemente
apreensivo. – Não acha que teria alguém melhor?
— Edward é um mestre na esgrima e um paladino
além do convencional, mesmo não dominando totalmente magias, ainda é um dos
melhores que treinamos em anos. – Parysas afirmou pensativo, elevando um pouco
o ego do paladino de forma amistosa.
— Obrigado pelos elogios. — Agradeceu o
paladino, recuperando a autoconfiança perdida momentaneamente.
— Varis, um assassino exemplar, mestre na luta
corpo-a-corpo e um escalador e malabarista surreal. – Ortros afirmou de forma
direta.
— Nada a reclamar. — Afirmou o ladino,
lamentando o fato de que Sagita não iria buscar os escolhidos ao seu lado.
— Voltten, suas habilidades de cura e seus
conhecimentos são de dar inveja em muitos médicos, sem dúvidas uma peça
principal de seu grupo. – Sansa falou de forma animada, para elevar a confiança
e a moral do amigo.
— Agradeço... — respondeu o mago vagamente
receoso. – Eu acho...
— Glans, um draconato de força sem igual, você e
Aquiles são os mais fortes. Sem você, um terço do poder de ataque seria
perdido. – Ortros continuou trocando olhares com o draconiano.
— Um terço? – Questionou o draconato. – O que
ser isso?
— James, você é um dos melhore arqueiros que eu
vivi para presenciar, gostaria que você aceitasse meu convite para participar
desta missão. – Ele complementou.
— Aceitado. — Respondeu o arqueiro levemente
orgulhoso ao falar. — Não deixo trabalho pela metade.
— E Aquiles...
— Com todo respeito, Senhor, eu não trabalho
para Civitas, e sim para os Cavaleiros Negros. – Aquiles afirmou de forma
receosa. – Suponho que devemos rever com Kaplar esse ponto.
— Estou ciente disso e já me certifiquei de
pedir para o próprio Kaplar os direitos de lhe comandar. O mesmo me deu
permissão ao saber das atuais situações que nos encontramos hoje.
— Mesmo com o poder dos Cavaleiros Negros, nós
não podemos nos comparar ao exército Inglês. — Reclamou Parysas, após um breve
suspiro.
— Se meu próprio pai lhe autorizou, não tenho
como recusar a oferta. – Aquiles respondeu arrumando a postura.
– Nós permaneceremos na capital e protegeremos
os escolhidos. – Disse Parysas pensativo. – Temos um mago supremo do nosso
lado, deve ficar mais fácil.
— Bem.... Acho que está decidido... — Falou
Merlin de forma calculista. — Estarei
pesquisando um feitiço para revelar os escolhidos, enquanto me manterei na
proteção particular do escolhido que trouxe. Chuto que eu conseguirei localizar
os próximos escolhidos, só precisarei de um lugar para isso. Posso usar a
biblioteca deste castelo?
— À vontade. — Respondeu Ortros, se sentando no
trono real, enquanto cedia aos pedidos do mago de forma receosa.
— Obrigado, alguém pode me guiar para lá?
— Eu! – Voltten e Sansa gritaram, ambos
empolgados.
— Obrigado. — Respondeu o mago, acompanhando os
dois que saíram da sala para conduzi-lo.
– Acho melhor eu ir descansar. – Aquiles
afirmou, seguindo para fora da sala do trono.
– O mesmo. – James concordou fazendo o mesmo,
logo eles foram seguidos por Glans.
– Não confio nesse cara. – Disse Varis de forma
rápida, após o tal “mago supremo” ter saído da sala do trono. – Não se pode
confiar em pessoas de alto escalão. – Logo ele se virou para Ortros o encarando
vagamente. – Sem ofensa.
– Seu ponto de vista é considerável. – Ele
respondeu. – E isso não é o melhor dos fatores... Vamos ter que fazer vigias e
barreiras melhoradas agora. – Terminou com um suspiro.
Edward ficou cabisbaixo por um breve momento,
chamando a atenção de Varis e de Parysas que o observam por alguns segundos.
— Algo lhe aconteceu? – Perguntou o paladino
real, preocupado com o amigo.
— Nada, apenas estive pensando...
— Pensando em que? – Questionou Varis, se
intrometendo na conversa dos dois paladinos.
— Crist é a reencarnação de um deus. É errado
alguém tão jovem receber tal responsabilidade?
— Nós não escolhemos nascer. — Afirmou Ortros
com um tom mais sério do que o de costume. — Muito menos o que iremos viver, o
destino é uma arma quebradiça, ora ela vai lhe favorecer, ora lhe dificultar ou
lhe ferir, esse é o ciclo natural.
— Ele tem razão. — Afirmou Varis, se
identificando com a frase dita pelo amigo. — Ela deve ser grata por ter alguém
como você para chamar de pai pelo menos.
— Vindo de você é um elogio estranho. — Falou Edward em um leve tom
cômico.
— Obrigado, eu acho.
Sagita compreendeu o real sentido das palavras de Varis, junto de Ortros
que sorri para os dois elfos.
— Vocês parecem eu e meu irmão quando éramos pequenos. – Afirmou o falso
rei com risadas vagas
— Hum? – Questionou Edward e Varis.
— Nós éramos sempre assim, um era responsável e dedicado, já o outro era
um tremendo de um falastrão de golpes baixos. – Ortros afirma com um leve tom
nostálgico em sua voz.
— Já dá para imaginar quem eram os irmãos. – Varis comentou depois de um
breve riso.
— Mas, no fundo, os dois davam o melhor de si para que conseguissem
alcançar os objetivos. – Ele acabou a frase em um tom aberto e pensativo.
Sagita deu um passo à frente, começando a se aproximar dos três.
— E qual seria esse objetivo? – Ela questionou, deixando Ortros inquieto
e receoso.
— Isso... – Ortros afirmou confuso. – Isso é uma coisa a parte que eu
prefiro não falar.
Os três olharam curiosos para o falso rei, que estava começando a
esconder vagamente suas feições.
— Certo... – Varis afirmou um pouco envergonhado. — Sagita quer uma
bebida?
— Vou aceitar, dessa vez.
— Edward nos acompanhará?
— Recuso. Tenho que ver o estado atual de Crist, graças a barreira ela
tem ficado com uma preguiça extrema. – Afirmou o paladino em tom cômico, se
retirando da sala junto com os outros elfos.
– Efeitos colaterais, eu acho que posso resolver isso. – Parysas afirmou
o acompanhando.
Sozinho, o falso rei passou seus dedos pela sua cicatriz no canto de seu
olho, relembrando o que causou aquilo, o gigantesco ataque do super-humano que
o derrubou no passado. Quando parou para lembrar daquilo só conseguiu assimilar
seu irmão partindo como uma fera para protegê-lo.
– Nosso objetivo.... As peças
estão espalhadas ainda, vocês são duas principais, as outras vinte virão
naturalmente para cá... esperem o Mundo realizar seu ciclo. – Recitou
Ortros silenciosamente para si. – Porque suas palavras ficam cada vez mais
incríveis do que críveis ao passar dos anos, pai? É difícil ser O Julgamento nesse meio...
Os lamentares rápidos foram atrapalhados por um guarda que adentra a
sala do trono.
– Senhor...
Ortros fechou seus olhos profundamente e os abriu, mudando as feições de
seu rosto para a mais neutra possível.
– Sim?