— E foi assim que vocês vieram parar aqui
também? — Perguntou Varis sem expressão.
— Digamos que sim. — Respondeu James, incomodado.
— E eu achando que era o idiota do grupo.
Em uma ala de celas reclusas, os quatro amigos se encontraram com o
escolhido no mesmo bloco. Todos estavam
sem armas, armaduras e com roupas surradas, junto disso, suas cabeças
condenadas à morte. Mal poder andar direito eles podiam devido a correntes que
os prendiam a parede de pedra do local.
— Acho que pelo menos seu plano deu certo, Varis. – Afirmou Edward
levemente cabisbaixo.
— Oh, boa. – Ele falou.
— Boa? – Disse o arqueiro sem ânimo. – Estamos nós quatro presos aqui,
qual a próxima parte dele?
— Eu estou aqui também. — Disse o escolhido que com medo ao encarar os
quatro amigos que discutiam entre si com muita intercalação de humor.
Perante o jovem de pele queimada e cabelos pretos, os quatro eram
super-humanos. Todos eram musculosos, aparentavam ter habilidades extremas e
uma sabedoria vasta.
Mesmo quando Varis e Edward atacaram os guardas, dava de perceber a
resistência absurda dos dois elfos negros. Após a chegada repentina de Aquiles
e James, o mesmo os viu atacando de forma efetiva.
Foi preciso mais de vinte homens para pará-los e James quase escapou.
Agora eles estavam lá, os quatro homens em sua frente discutindo como crianças.
— Certo, nós cinco estamos presos aqui. — Corrigiu Varis, não dando a
mínima importância para o escolhido, reprimindo um pouco mais o jovem.
— E por que estamos aqui? — Perguntou James, após um leve suspiro ele se
sentou no chão da cela calmamente.
— Viemos resgatar o escolhido... — Respondeu Edward com desânimo.
— ...E eu falei que se fossemos presos junto com ele, iríamos garantir
uma maior proteção. — Completou Varis, se escorando na parede.
— Então estamos aqui por sua causa mesmo? — Perguntou Aquiles e James,
ambos raivosos, direcionando sua ira para Varis, que só abaixou a cabeça e os
ignorou.
— Se forem me espancar, só não batam no rosto. – Ironizou Varis, olhando
as correntes dos colegas que não dariam margem para que os dois lhe batessem.
— Parem! Nós estamos aqui juntos. – Edward suspirou, se sentando na
cela, imitando James e olhando para a única janela de sua cela, onde os raios
prateados da lua os iluminavam. – Então não vale a pena lutar.
— Sim... — Resmungou Aquiles, recolhendo seu punho que já estava
preparado para golpear Varis. – Não é bom entrar em uma briga interna.
O rapaz, recluso e envergonhado, começou a indagar perante os quatro.
— Senhores, eu agradeço vocês terem vindo me resgatar, por algum
motivo... – o jovem se escorou nas paredes com um leve receio do que os homens
fariam após sua próxima afirmação. – Mas eu fui condenado por ter uma aura
mágica, eu só ia ser colocado na prisão por alguns dias e em seguida ia ser
mandado para uma escola militar... — Disse o escolhido aflorando a raiva em
Aquiles em questão de segundos.
O punho do cavaleiro se fechou rapidamente. Como um aríete destruindo o
portão de um castelo, o soco tentou atingir o peito de Varis, mas as correntes
impediram ele de chegar perto.
Porém, o ranger constante deu a aparência de que elas iriam romper a
todo momento. Mesmo preso, a raiva do cavaleiro
força os metais que dão uma mobilidade vagamente maior, mas mesmo assim não
muda nada.
— Você disse que não iria me bater? — Disse Varis calmamente, ao
observar o cavaleiro se esforçar ainda mais para o alcançar.
— Mudei de ideia. — Respondeu Aquiles, com um sorriso irônico e raivoso
no rosto enquanto seus músculos se afloraram.
— Aquiles, lembre-se, você que decidiu ajudá-lo. — Falou James tão calmo
quanto Varis.
O ranger das correntes do cavaleiro acabaram, após sua raiva se esvair
em bons e longos minutos. Agora o mesmo se deitou no chão em sinal de birra.
— De qualquer modo, quanto tempo ficaremos aqui? — Perguntou Edward de
forma calma e tranquila, porém ao mesmo tempo preocupado e receoso.
— Vocês foram condenados por agressão às autoridades, o castigo para
isso é coliseu. — Responde o jovem escolhido envergonhado e assustado. – Onde
vocês vão ser mortos...
— Mortos? — Pergunta Varis, se levantando e caminhando em direção ao
jovem. — Você não sabe a minha história garoto, é só arrancar o braço do nosso
vizinho de cela e...
— Varis, nós estamos sozinhos nessa prisão. — Interrompeu James.
O ladino olhou em volta e, com o pouco brilho proporcionado pelas tochas
do local, confirmou a afirmação do arqueiro de que aquela ala minúscula só
tinha aquele bloco ocupado.
— Droga! — Reclamou — Mas por que estamos sozinhos aqui?
— Essa é a área de celas para humanóides de tamanho proporcional e
crimes graves. — Respondeu James. — Por isso é pequena, as outras áreas estão
as bestas e monstros que o reino captura ou os prisioneiros no corredor da
morte. Somos praticamente uma atração chave agora, eu acho.
— Como sabe disso? – Perguntou Aquiles, levantando e se sentando.
— Frutos de viagens. – Orgulhosamente o arqueiro confirmou seus dizeres
com um sorriso no rosto. – Não é meu primeiro coliseu, apesar de ser a primeira
vez como atração.
— As nossas armas foram confiscadas, vão nos colocar para lá sem o nosso
equipamento? — Perguntou Edward levemente revoltado, passando o polegar no anel
mágico que havia posto em seu anelar. — Ou quase. Devo-te uma, Voltten.
— Não se preocupem, eles dão equipamentos antes da batalha. — Respondeu
o escolhido acalmando os quatro que estavam nervosos, mesmo alguns não
demonstrando.
— Ótimo, mais espadas com lâminas apenas de um lado. Eu estou odiando
esse lugar. — Resmungou Varis, voltando a se escorar na parede.
— Estou tão animado quanto você, amigo. — Completou James com mais um
suspiro.
— A Propósito, estamos nessa cela há algumas horas e não sabemos o seu
nome, escolhido. — Disse Edward, direcionando a atenção ao escolhido, que
estava envergonhado.
O rapaz ficou receoso, mas tomou coragem perante os quatro.
— Meu nome é Ertiaron. — Respondeu o jovem, de forma baixa e instável.
— Não é um mau nome. – Disse Varis. – Temático do lugar, eu até que
aprovo.
— A Propósito, porque me chamam de escolhido? – ele questionou, após um
rápido suspiro de tensão.
— É uma longa história, não podemos falar em solos de Harenae. —
Respondeu o paladino, arrumando um lugar para deitar. — Se você está certo, nós
seremos condenados amanhã. Melhor descansarmos até lá.
— Concordo. – Disse Aquiles, voltando a se deitar.
– Boa noite, meus caros. – James se arrumou no canto da cela e fechou
lentamente os olhos. – E que os demônios não assombrem seus sonhos.
— E que os ratos não devorem nossos olhos. — Adicionou Varis, fazendo o
mesmo que o arqueiro.
Logo o escolhido fez o mesmo. Aquele lugar frio
se tornou o berço para um descanso improvisado.
Voltten mordia seus cabelos de forma histérica devido a pressão imposta
pela situação.
Soube que seus amigos foram condenados ao coliseu por meio de boatos na
taverna que descreviam com precisão dois elfos cinzas, um da floresta e um
careca. Mesmo tomando o conhecimento do máximo que pode, ele estava abalado e
sem um horizonte pra seguir
No quarto da estalagem, o mago abriu todos os seus livros, mapas e
pergaminhos em cima de uma das camas. Seus olhos entraram em um frenesi de
movimento ao ponto de deixá-lo tonto.
Glans estava olhando tudo aquilo confuso, mesmo querendo ajudar, o
draconato sabia que não iria conseguir, devido a sua dicção falha e baixa
inteligência.
– Tá, nós podemos fazer isso... – Voltten pensou em voz alta com extremo
nervosismo. – ...Não! Não podemos fazer isso!
Continuando a morder e a ranger os dentes, Voltten continuou a folhear
seus livros, buscando neles algum fio de esperança, mas não encontrando nada.
– Nada! – O mago gritava, apavorado com o futuro que se aproximava aos
poucos. – Não temos nada! Nada para ajudar!
O mago olhou para Glans e tentou dar alguns passos em sua direção, mas
cambaleou e caiu no terceiro passo.
– Voltten! – Gritou Glans, se aproximando do amigo com o intuito de
levantá-lo.
– Não temos nada, Glans... – O mago começou a murmurar, antes do
draconato o tocá-lo. – Eles vão morrer, não temos nada para ajudar.
O mago foi levantado com a ajuda do draconato que o apoiou na cama.
— Você ouviu as histórias sobre os oponentes do coliseu. – Voltten disse
sem esperanças e emoções conflituosas. – Taberneiros não mentem, eles vão
morrer e nós não podemos fazer nada...
Voltten se moveu lentamente até seus livros, olhando mais uma vez todos
e não encontrando nada para ajudar.
— Maldição! – O mago chutou sua mochila, mas sentiu uma coisa dura
presente nela, isso o fez abri-la desesperadamente. Ao tirar de lá ele
encontrou mais um livro. – Isso, isso... isso... um livro de culinária.
Voltten perdeu completamente as esperanças com aquele livro.
— Um maldito livro de culinária, como diabos eu pude ter esperanças com
isso... – Voltten folheia o livro vagamente só para não deixar ele passar, mas
o mesmo encontrou algo curioso.
Voltten recuperou a postura e colocou o livro de culinária ao lado de
alguns de seus livros de alquimia e medicina.
— Mas.... Se juntarmos essas receitas de chá com essas substâncias... –
Voltten deixara a preocupação de lado, ele pegou um papel e uma pena com tinta.
– É isso, Glans! É isso meu caro amigo!
– Voltten encontrar magia? – Glans perguntou, não entendendo os dizeres
do amigo.
– Não, não vamos usar somente a magia! – Voltten gritou animado,
enquanto anotava cada ingrediente que deveria comprar. – Nós vamos usar do
mundo ao nosso favor! Vamos usar a lógica e a razão em função do fluxo
sanguíneo aumentado de magias curativas!
— Hum? – Glans ficou completamente confuso com o ânimo surreal do amigo.
— Vamos juntar tecidos, repor o sangue... – Voltten se aproximou de
Glans rapidamente. – Vamos fazer a cura perfeita!
A lista foi feita por Voltten que a deixou em seus bolsos extremamente
protegidos.
— Vamos, Glans. – Disse Voltten, se direcionando a porta do local e se
virando para o draconato. – Vamos comer.
– Hum? – Glans se aproximou do amigo, curioso.
— Nós devemos descansar e comer. – Voltten virou lentamente seus olhos
histéricos para o amigo. – Amanhã, vamos praticar medicina.