Nota do autor. Isso é apenas uma mensagem do autor, pode ignorar se preferir. Ola, desculpe se eu parecer ignorante ou irritado, mas é só um ponto de vista que me deixa meio desanimado em alguns pontos. Eu sei que não é obrigação de ninguém, mas é meio desanimador ver os analytics e comparar as visualizações com os comentários. Sei que é comum esse tipo de coisa, mas da a impressão de que eu estou escrevendo apenas para maquinas verem, claro que agradeço a quem comenta e interage, em especial o Paragon e o ClayMan e a toda comunidade do discord. Acho que isso é só um convite pra trocar ideias nos comentários, mas de novo, ninguém é obrigado a nada. Bem, espero que gostem do capitulo, Say ya
O
ladino acordou em uma carroça.
O sol brilhava em suas
retinas irritadas, mais vermelhas que o normal.
Ao olhar para seu corpo,
reparou que suas roupas não eram mais os retalhos de prisioneiros e sim vestes
requintadas dignas de nobres senhores feudais, ele se surpreendeu e se espantou
por completo.
A única coisa que se lembrava
era da dor que sentiu antes de desmaiar.
Em sua mente badalava os
feixes dos resquícios da grande e imensurável tortura que sofreu após ter seus
ossos quebrados e expostos devido ao impacto na parede do coliseu, em meio a
isso, também estava os dourados fios do cabelo de Voltten.
Varis desabotoou a camisa
branca que estava usando, analisando seu peito e percebendo que o mesmo não
possuía nenhuma cicatriz nova, algo que seria impossível devido aos ossos de
suas costelas que certamente tinham rasgado sua pele.
Deixando a estranha pele
intacta de lado, o ladino se pôs a analisar o caminho que a carroça estava
percorrendo.
Ele estava em um lindo vale
verde limão, com inúmeras árvores e plantas belas. Desde as típicas rosas a
amarílis, azaleias e plantas tão lindas que se destacavam mesmo que de longe.
Ao longe, uma cidade grande e
rústica, mas que não podia se ver muito devido à distância.
Varis também olhou para quem
estava conduzindo a carroça. Ele apenas viu um chapéu de couro novo em folha
com uma trança branca escapando para fora.
Ao se aproximar e circular o
rosto do homem, o elfo já pré-visualizou o rosto de Cérbero – que possuía o
costume de sequestrá-lo e levá-lo junto para missões e viagens em uma carroça
para evitar conversas.
Porém, a leve surpresa alegra
vagamente o ladino. Aquele homem que estava conduzindo a carroça era um velho
senhor, com uma pacífica face sorridente, completamente diferente do rosto
ameaçador de Cérbero.
— Algum problema, senhor? –
questionou o homem, ao perceber que Varis estava lhe encarando.
— Hum!? – exclamou Varis ao
ser descoberto. — Não, nada, nenhum problema.
O ladino se aquietou em seu
assento e voltou a admirar a paisagem, tendo uma leve impressão de já ter visto
esse lugar antes.
— A Propósito, onde estamos
indo? – Questionou.
— Ora, o senhor perdeu a
memória? – Respondeu o velho, em um tom bem humorado e cômico.
— Bem... Um pouco. —
Respondeu Varis, no mesmo tom de voz.
— O senhor está voltando para
casa.
— “Casa”? – Perguntou o
ladino, não compreendendo o que estava acontecendo.
— Sim, meu lorde. Sua casa.
O ladino começou a desconfiar
do que estava acontecendo, tomando que aquilo era completamente falso, uma
ilusão de sua mente.
Tentando escapar de sua própria cabeça, Varis
olhou para a estrada de chão batido e pensou em uma forma de se jogar do
veículo em movimento sem sofrer lesões.
Porém, seu corpo se recusou a
se mover no exato momento em que ele tentou pegar apoio.
O desespero subiu a cabeça de
Varis, que impulsionou mentalmente seus músculos, mas não teve a resposta dos
mesmos que permaneceram imóveis, o que só trouxe mais e mais agonia no ladino.
O seu mundo se atrofiou em
sua frente, como se suas íris estivessem a ser picotadas e ao mesmo tempo se
regenerando. A visão foi arrancada violentamente e ao mesmo tempo se regenerou em
instantes.
Um ciclo de alterações
oculares ocorreu e em segundos Varis se viu em outro lugar.
Olhando rapidamente, viu que
estava sendo acompanhado por um mordomo. Um homem de terno bem arrumado com
face de nobre. Não reconhecendo o cenário à sua volta e olhando mais uma vez
para compreender o que acontecia, Varis continuou confuso em meio ao mundo de
ilusões.
A paisagem calma e serena do
bosque verde limão havia se transformado em um centro comercial de uma
metrópole, com inúmeras pessoas o circulando e o cumprimentando.
O mordomo que o acompanhava
possuía uma cara séria e velha, nada semelhante ao senhor que estava levando a
carroça anteriormente. As suas roupas estavam misteriosamente ajeitadas
novamente, parecia que ele nunca tinha aberto elas para conferir o estado de
seu peito.
As pessoas puxaram a sua mão
direita quase que levando com ela o braço inteiro do ladino, que cumprimentava
quem o puxava, mesmo que contra sua vontade.
Em meio às construções de
pedra da metrópole, outra coisa familiar se destacou aos olhos de Varis.
Era uma igreja, uma
construção gótica negra com uma estátua de pedra com a figura de um anjo
empunhando uma espada e a exibindo para o céu.
O ladino se arrepiou por
completo, tendo como principal sentimento o medo, depois a dúvida e o receio,
ele sabia que já havia visto aquele cenário antes, até mesmo algumas pessoas se
tornaram reconhecíveis depois de alguns segundos...
Foi então que ele viu,
entregando um buquê de rosas para uma criança, a mulher que lhe assustou
completamente.
Seu rosto não era fora do
comum, não possuía nenhum adereço físico ou arma a mostra que causasse medo,
apenas empurrava seu carrinho de flores por aí.
Porém, Varis lembrou com
detalhes do rosto daquela mulher, uma jovem elfa que havia conhecido a tempos,
uma conhecida, talvez amiga, e o principal, uma assassina de seu antigo clã.
Por instantes a imagem do
rosto da mulher coberto de sangue e completamente cortado pelas espadas de
guardas vieram à tona na memória do ladino que quase deu um grito de espanto,
mas seu corpo não permitiu.
Amedrontado, ele deslizou
seus olhos para a criança que segurava o buquê com um sorriso imensurável.
Porém, até isso o assustou
ainda mais, a figura de pele cinza do garoto que atravessava a multidão, sempre
deixando o buquê em destaque, espantava a medida que se aproximava. Seu rosto
inocente e sua pele lisa eram totalmente reconhecíveis pelo ladino, não porque
aquela criança era algum conhecido ou amigo, mas sim porque aquela criança era
idêntica a ele quando mais novo.
Era como um espelho que
refletia sua imagem quando jovem. Mas um espelho que se movia, um espelho que
se aproximava, um espelho que lhe ameaça.
Agora tudo se encaixava como
um quebra-cabeças em sua mente que juntou todos os locais vistos, os rostos
reconhecidos e os acontecimentos que eram revistos pelo ladino que lembra por
completo daquele dia.
O plano de seu clã era matar
a duquesa de Frankenstein que havia acabado de descobrir que estava grávida. O
executar do plano envolvia uma criança que levaria consigo uma adaga escondida
entre as rosas vermelhas de um buquê que seria entregue a ela por uma assassina
disfarçada.
Após isso o que deveria ser
feito era simples. A criança deveria esfaquear a grávida na região da barriga
ou útero, matando-a antes mesmo de que alguém a percebesse.
O plano havia sido o início
da carreira de Varis e também seu primeiro pesadelo. Mas não fazia sentido
aquilo estar acontecendo, pois ele havia superado aquele trauma há muito tempo.
Foi então que ele viu, se
movendo entre as pessoas, a criança, que já abandonara as flores de seu buquê,
estava prestes a estocar com a adaga.
Porém, ao olhar seus olhos,
Varis reconheceu as íris brancas do demônio que lhe assombrava como uma
maldição.
Os enormes olhos do ser
correram por seu espírito e o deixou extremamente desconfortável, a dor da
adaga do garoto perfurando sua barriga se mesclou com a agonia de sua alma
sendo torturada, fazendo o ladino morrer lentamente em seu sonho.
“Coma! Coma!” Os gritos em
sua mente vieram à tona novamente. “Almas, carne, prazeres, precisamos comer! O
fogo! Ele queima! Não siga! Não siga o fogo!”
Com um grito de dor tremenda,
o ladino despertou de seu desmaio profundo. Ao abrir seus olhos com extremo
pavor e ainda com as vozes em sua mente, Varis se deparou com um teto branco
como marfim.
Mesmo questionando sua
sanidade, o ladino sentia que aquilo era real, mesmo não tendo como comprovar.
Varis relaxou um pouco ao
entender o que aconteceu, se tratava apenas de um sonho ruim, mas também
lembrou que já havia tido esses sonhos bizarros anteriormente.
Todas as vezes quando ele
desmaiava era um novo. Não podia ser uma coincidência, mas se fosse ia ser uma
bem incrível.
Após a dúvida de seu sonho
passar, o ladino direcionou sua visão para seu corpo, virando a cabeça para
baixo vagamente.
Apenas isso lhe causou um
desconforto no pescoço, algo que ele achou ser natural por acordar em uma cama
dura. Ao olhar, ele se deparou com seu peito totalmente coberto por mordaças
médicas que já perderam a coloração branca a tempos, sendo agora uma mistura de
vermelho do sangue seco e de amarelo da poeira que a sujou.
O ladino se assustou
brevemente, mas encarou fácil isso como realidade e como consequência de seu
plano que nem ao menos sabia se tinha funcionado.
Em sua mente, aquilo poderia
ser tanto um paraíso quanto um castigo, a única certeza era a dor.
Ao tentar levantar o braço,
uma tormenta imensa o atingiu. Era como se seus ossos estivessem se quebrando e
reconstruindo a cada impulso dado pelos nervos do membro que latejavam e se
contraiam em questão de segundos.
A dor extrema sentida por
Varis o corroía por dentro e queimava a alma, fazendo-o lacrimejar uma pequena
gota que escorria de seu seco olho direito e caiu para fora do rosto.
Com o passar de muito tempo
se acostumando a aquela sensação horrível, a dor de se mover diminuiu, mas não
parava de nenhuma maneira.
Varis, com muito esforço e
dedicação, conseguiu se sentar em questão de quase meia hora de pura tortura
física. Uma tosse saiu de sua boca, o mesmo a escondeu com seu punho fechado e
a executou sentindo ainda mais dor enquanto tossia.
Ao olhar para o punho que
havia tampado a tosse, pequenos respingos de sangue podiam ser vistos e
identificados pelo ladino que se assustou ao vê-los.
— Não, você tem que ficar do
lado de dentro. — Murmurou Varis, sentindo dor até ao falar. – Acho que não foi
uma boa ideia ter se levantado, mas já que já tamo aqui...
Após a frase ser dita, um
puxar de ar levemente mais forte foi feito pelo ladino, que não havia
controlado direito a respiração. Aquele simples ato fez Variz sentir o pulmão
raspando nas costelas.
A dor era vaga, mas já se
tornou algo de costume naquele ponto.
O ladino ignorou por alguns
segundos sua dor e direcionou sua atenção para o lugar a sua volta, se
esforçando para identificá-lo, pois até mesmo sua visão estava vaga e ele não
poderia ver a mais de alguns metros de distância.
Focando sua concentração,
Varis percebeu que estava em uma sala luxuosa, provavelmente pertenciam a um
castelo ou palácio de algum rei ou semelhante.
Seu interior era recheado de
tapeçarias e quadros com figuras religiosas desconhecidas pelo ladino e em cima
de algumas mesas que estavam por lá, tinham diversas plantas, livros e
narguilés.
O elfo negro estranhou a
sala, não conseguindo entender direito o que havia acontecido após seu apagar.
Decidindo não descansar até encontrar uma resposta válida, ele encostou seus
pés no chão.
Arrependimento, lamentação,
penitência, dor, sofrimento, angústia, tudo era sentido pelo ladino naquele
momento como um coquetel do diabo.
O não sabia se aquele era ou
não o inferno, mas se não fosse, tinha certeza de que, quando fosse para lá,
sentiria exatamente isso a cada momento.
Sentindo de imediato o
quebrar de suas pernas que fizera o mesmo que seus braços. Ao depositar seu
peso, ele se desequilibrou, involuntariamente Varis acabou caindo e com isso a sensação
de todos os seus ossos se chocando com o chão e o arranhando internamente veio
à tona, lhe causando outra dor imensurável.
O resultado disso foi outro
grito que quase lhe arrancou todo o ar de seus pulmões que estavam a ser
perfurados pelas costelas. O ladino chorou de dor, enquanto se remexia, voltava
a ver o teto de mármore branco do local.
– Porque!? – Varis murmurou
para ele mesmo enquanto chorava de dor ao mesmo tempo que era afogado
parcialmente pelo sangue expelido de dentro de sua garganta. – Porque eu não
fiquei na cama!?