Nota do autor. Isso é apenas uma mensagem do autor, pode ignorar se preferir. Ola, desculpe se eu parecer ignorante ou irritado, mas é só um ponto de vista que me deixa meio desanimado em alguns pontos. Eu sei que não é obrigação de ninguém, mas é meio desanimador ver os analytics e comparar as visualizações com os comentários. Sei que é comum esse tipo de coisa, mas da a impressão de que eu estou escrevendo apenas para maquinas verem, claro que agradeço a quem comenta e interage, em especial o Paragon e o ClayMan e a toda comunidade do discord. Acho que isso é só um convite pra trocar ideias nos comentários, mas de novo, ninguém é obrigado a nada. Bem, espero que gostem do capitulo, Say ya
Nota do autor². Estou iniciando um novo projeto pra complementar a historia de Evalon, no caso vai se tratar de uma serie de pequenos complementos pra um assunto especifico da historia ou respondendo alguma questão em especifico (podendo ou não possuir spoilers, mas isso eu planejo avisar antes, então não se preocupem). Já tem uma postagem relacionada que seria a edição 0, a medida que vou postando eu divulgo aqui, então pra quem se interessar segue o link. https://saikaiscan.com.br/news/45-anos-de-evalon-divine-notes/198
As
gazelas e lebres fugiam do barulho dos passos.
Os predadores naturais do local se curvaram ou
se juntaram as gazelas perante o rosto malcuidado.
Um passado longínquo lhe acertou o peito como
uma flecha acertando o corpo de um golem.
As árvores e flores acompanhavam indiretamente o
espírito do andarilho com seu perfume e suas vinhas.
O canto dos pássaros saudou aquele que na visão
deles, possuía a mesma presença forte de seu antigo Deus.
Os insetos se recolheram para escapar do frio,
os sapos acampavam nas lagoas, a natureza fluía aos montes naquele lugar
fantasma.
A vegetação alta do lugar parecia maior do que
ele se lembrava. Roseiras, ervas daninhas, samambaias, todas as vegetações que
a natureza proporcionava podiam ser vistas aos montes naquele pedaço esquecido
do mundo.
Ruínas e estátuas quebradas começaram a surgir
após alguns minutos de caminhada.
Estátuas de diversos animais e pessoas em algo
que já foi uma cidade, mas que agora estava caindo aos pedaços.
Abandonada por anos e tomada pela fauna e flora,
o local causava uma leve nostalgia no andarilho, que tirou a mão de dentro de
seu manto retirando sua luva de couro e a estendeu em direção a uma pequena
árvore que residia em um quintal destruído.
O toque não foi executado, mas a condução de
energia mística causou pulsações originadas da árvore, atingindo em cheio a mão
do andarilho.
Acumulando energias, as pulsações se moldaram
voluntariamente em uma esfera de poder que flutuava em cima da palma da mão do
andarilho. Quando a energia foi estabilizada, a esfera desceu e se misturou na
pele rígida e impenetrável do andarilho.
– Nada... – Ele resmungou, tirando um cantil de
sua mochila e derramando água na frente da árvore. – Desculpe o incômodo.
Aquela pequena cidade estava sumindo enquanto
ele caminhava, mesmo com as florestas que o cercava, ele viu os horizontes
mudando e a névoa começando a subir e a camuflar o chão.
Os raios da aurora se mesclavam com os últimos
raios de prata da lua, sinalizando o nascer de um novo dia.
Independentemente do que ocorria, o andarilho
continuou caminhando friamente.
Sem mapas ou bússolas, ele aparentava ter uma
direção natural, seguindo entre árvores e arbustos específicos.
Sua caminhada teve fim no final de um caminho
improvisado que acabava em uma grande ravina. Ao olhar para baixo, era
impossível ver seu fim com o olho humano e a distância entre uma ponta a outra
era de no mínimo dez metros.
O andarilho se agachou e acariciou a grama a sua
frente, aplicando da mesma energia aplicada antes na árvore. A terra começou a
se mexer como um terremoto simples.
Da beirada da ravina, se manifestaram raízes
grossas e firmes que se expandiram como cobras para o outro lado. Rapidamente
uma ponte foi criada pela magia do andarilho.
Atravessando de forma lenta e suave, provando
que aquela ponte improvisada era suficientemente forte para aguentar seu peso,
o andarilho continuou seu caminho.
A floresta aos poucos ia ficando mais e mais
densa, tendo a névoa piorando a visão. Chegando em um certo ponto, não se ouvia
mais o canto de pássaros ou barulhos de animais andando.
Aquele lugar tinha uma espécie de pressão que
afastava a todos os seres, como se todos fossem doutrinados a nunca cruzar
aquele caminho.
Depois de mais alguns minutos, ele viu o que não via a
certo tempo.
Esculpido em árvores espalhadas quase que
aleatoriamente, corpos e rostos, todos com extremos detalhes e com musgos
infestando essas figuras.
O andarilho olhou rapidamente por aqueles rostos
tendo vagas lembranças deles.
Homens e mulheres que faziam parte de seu
passado, mesmo não sendo amigos diretos e mal sendo conhecidos, era triste
vê-los naquela forma.
Já as crianças... nem mesmo o andarilho conseguia
encontrar relatos em suas mentes.
Era triste pensar sobre aquilo, mas nada que o
andarilho não suportasse, já estava acostumado a sofrer com perdas.
As rosas e arbustos venenosos começaram a surgir
em grande quantidade à medida que a caminhada avançava.
Aquelas plantas iam além de uma ageratina
altíssima ou cicuta, essas eram plantas únicas, algo que não existia em outros
lugares do mundo.
Uma surrexerunt water hemlock, espécimes únicos
do local, seus efeitos eram quase que um castigo divino.
Uma rosa que emitia gases venenosos que causam
convulsões, vômito, dores abdominais, tremores e confusão, o contato com a pele
só deixa os sintomas mais fortes podendo facilmente resultar em morte.
O andarilho passou por um caminho aberto entre
as plantas.
Como ele não sentia dores pelos gases emanados
pelas plantas, era um mistério total. Somando isso a outras plantas que
causavam outros efeitos era como se aquele homem não possuísse pulmões.
Após alguns segundos um pequeno barranco tomou completamente
o foco do andarilho que viu seu real objetivo ao longe. Depois de mais uns
minutos de caminhada no meio da solidão e dos gases venenosos, finalmente
chegou em seu destino.
Assentado ao fim de uma gigantesca cachoeira em
um anel de uma montanha surrealmente alta, um templo de pedra velho e destruído
em algumas partes. A água escorria de seu topo e ia até seus arredores,
formando pequenos riachos ao seu redor.
A arquitetura não era gótica ou rústica.
Ele era possuía uma arquitetura celta forte,
aquele castelo era certamente maior do que de Cartan, talvez maior do que o de
Monssolus.
Porém, o estado dele estava bem malcuidado,
muitas de suas torres estavam destruídas, fora a vegetação que estava tomando
conta de quase toda a sua estrutura exterior.
Andando em meio aos riachos, o andarilho chegou à
porta do castelo, abrindo-a com força e cuidado.
Aquele lugar possuía como nome “Berço da
Criação” devido a suas origens e carga divina. Um local histórico não só para
humanos, mas como também para todos os deuses.
Adentrando o lugar, o andarilho se guiou pelas
memórias que tinha daquela estrutura. Escadas, quartos, salas, para o
andarilho, tudo isso era nostálgico ver. Vir ali ano após ano era agonizante,
mas satisfatório. Matheus Freitas: Este é o primeiro masoquista da novel?
As lembranças de cada corredor eram profundas
para ele, que os percorreu subindo cada vez mais e mais no lugar.
A luz do sol veio do final da escada, finalmente
o andarilho confirmou que tinha chegado no local certo.
O topo da construção era o ponto mais alto do
lugar, onde dava para ver a grande floresta aos horizontes. O sol estava fraco,
mas dava para ver os respingos da cachoeira batendo em uma pedra – uma espécie
de telhado improvisado – gerando pequenos arco-íris no ar.
Havia um altar no topo da construção, ele era
circular e possuía uma pequena mesa de pedra no final do lado oposto da
entrada.
Caminhando lentamente para a mesa de pedra e tirando sua
mochila das costas. Ele colocou pequenos potes com farinha de osso e matérias
semelhantes de diversas cores em volta de um crânio humano.
O andarilho tirou por último, um saco de couro
pingando algumas gotas de sangue. Ele o cortou com suas unhas afiadas, formando
um desenho abstrato ao redor dos itens da mesa.
Após acabar os preparativos, o homem reuniu as
mãos em cima do crânio para iniciar uma reza.
– “Os filhos da terra, os filhos das plantas, os
filhos de seu ser, todos desejamos isso...” – O homem abriu as mãos fechadas
lentamente.
Entre as palmas, uma surreal esfera verde água
começou a puxar os ingredientes moídos da mesa de pedra, os transformando em
nada rapidamente.
– “A verdade por trás de nossas vinhas e veias
são compactuadas com nossa existência perante a fauna e flora...” – Continuou o
andarilho de forma fria e consciente.
A esfera de energia se modificou em raios que
envolviam o desenho de sangue em uma corrente elétrica desenhada.
– “E que assim estejamos em harmonia com nós
mesmos e com a natureza.” – Com o final da oração, o andarilho adquiriu um
brilho verde água em seu olhar, algo semelhante a neon.
Os raios se acumularam e envolveram o crânio em
um véu verde água que emanava grandes ondas de energia. Após alguns segundos, o
véu explodiu em uma ventania média, jogando os potes vazios para longe e arremessando
para trás o capuz do andarilho.
Em sua frente ele viu o que ele queria ver
novamente.
– Olá, Senhor Cérbero. – Aquelas palavras
mexeram no coração do caçador de uma forma que o fez agonizar por não conseguir
lacrimejar.
– Olá, minha pequena Nemeia. – Disse com a voz
trêmula.
A mulher nem pensou duas vezes e logo o abraçou
em um momento de oportunidade, o mesmo permaneceu estático, demorando para
abraçá-la de volta.
A garota esfregou com ânimo a cabeça nas roupas
do caçador enquanto o apertava cada vez mais.
– Ei, que ano estamos? – Ela perguntou depois de
se acalmar.
– Mil duzentos e cinquenta e nove. – Cérbero
disse calmamente. – Amanhã começaremos os anos sessenta.
– Entendo...
Os dois ficaram abraçados por quase meia hora,
como se o tempo não importasse para eles. Ambos não sabiam o que fazer, Cérbero
nunca sabia como reagir nesse dia do ano, mesmo fazendo isso a muito tempo.
– Ei, você está feliz, certo? – A Garota
perguntou receosa.
– Hum? – Cérbero questionou confuso. – Como
nunca estive.
– Ano após ano, você sempre vem aqui e cada vez
parece pior. – A garota começou a chorar enquanto abraçava ainda mais forte o
caçador. – Mesmo que seja pra me agradar, eu não me importo, já faz muito anos
que eu morri...
Cérbero começou a abraçar com mais força Nemeia
enquanto acariciava seus cabelos.
– Eu só pisco... – A garota começa a lamentar. –
A cada piscada passa um ano, só podemos nos ver nesse maldito dia! Você não
precisa se torturar me invocando todo ano! Eu não quero te fazer mal!
– Desculpa... – Cérbero disse com grande
tristeza. – A culpa disso acontecer foi minha... Eu que deveria ter tido esse
destino, se eu tivesse lhe entregado ao Tártaro...
O caçador começou a tremer enquanto abraçava
Nemeia.
– Você tinha uma vida inteira pela frente, eu
que não lhe protegi. – O caçador começou a fechar os olhos e tentou ao máximo
produzir uma mísera lágrima sequer.
– A culpa
não foi sua... – Nemeia tentou se aproximar do rosto de Cérbero, mesmo com a
altura próxima, era difícil. – Eu devo minha vida a você, pai. Matheus
Freitas: Pã, Pã, Pã!!! Por essa eu não esperava, jurava que era uma amante do
Cérbero.
Cérbero faz seu rosto se aproximar de Nemeia.
– D-Desculpe-me por não ser um bom pai. –
Cérbero lamentou gaguejando.
– Você não foi só um bom pai. – Chorando e
próxima do rosto de Cérbero, sentindo a barba mal feita do caçador, ela tomou
coragem pra falar. – Você foi a melhor coisa que me aconteceu, obrigado por
cuidar de mim mesmo eu não sendo ninguém. Paimon foi o único culpado, e ele não
está mais aqui.
– Nemeia... – O caçador parou de falar e apenas
continuou a abraçá-la. – Eu errei muito, você não merecia ser o foco disso...
O silêncio foi encarado como uma profunda troca
de palavras feita pelos dois.
Cérbero não tinha coragem para fazer algo tão
simples, depois de tudo que havia feito.
Após meia hora, Nemeia soltou o caçador
calmamente.
– “Uma vez por ano...” – Ela murmurou.
– “No dia em que as pessoas mais estão com
esperança...” – Cérbero continuou trêmulo.
– “A magia branca é potencializada ao
máximo...”.
– “Isso possibilita usar ela como suporte para
feitiços complexos se unirmos com magias santas”.
– Até hoje fazemos isso... – Disse Nemeia,
cabisbaixa. – Não é tortura ter que lembrar que isso aconteceu?
– Tortura... – Cérbero murmurou enquanto
retornava sua postura. – Você fala como se isso fosse algo demais.
– Você não precisa ficar fazendo isso se não
quiser.
– E manter minha garotinha no mundo dos
espíritos sem ninguém? – Cérbero ironizou de forma mórbida, enquanto se
aproximava de sua mochila.
– O mundo dos espíritos é estranho, eu só pisco
quando acaba o dia e logo eu estou no dia seguinte. – Disse Nemeia, pensativa
enquanto via o que Cérbero estava fazendo. – Foi que você me treinou, eu não
sou tão fraca assim.
– A minha pupila com maior tempo de treinamento,
não? – Cérbero afirmou, pegando uma série de livros. – Aqui, talvez você goste
desses.
– Boa. – Ela se aproximou e pegou alguns deles.
– “Matemática avançada”, “Física quântica” e “Teoria planetária”. – Encarando
Cérbero curiosa, Nemeia reuniu o título dos três livros. – O quão caro foi
isso? Matheus Freitas: Misericórdia… Minha cabeça doeu.
– Preços variados, a maioria veio da Inglaterra...
– Cérbero afirmou sem jeito. – Mas nada que umas transações ilegais,
transmutação de pedra em ouro e carvão em diamante não cubram, tudo por um bem
maior. Matheus Freitas: Cérbero tá aceitando mais um pupilo? Quero aprender
algumas magias para o meu dia a dia…
– Você ainda transmuta carvão em diamante?
– Assim como nos velhos tempos. – Ele ironizou
vagamente.
– Complexos e sem sentido... – Nemeia disse
enquanto abria um dos livros em uma página aleatória. – Assim como eu gosto.
– Não é tão sem sentido se você estudar bem, mas
fico feliz que gostou.
– Mais um ano assim, feliz em ver que você não
mudou, Senhor Cérbero.
– Eu mudar? – Questionou de forma irônica.
Nemeia sorriu para Cérbero enquanto abria os
livros e se sentava do lado dele.
– Ainda acredita no Enforcado? – Nemeia questionou.
– Perdi minha fé faz tempo. – Ele afirmou
olhando para as próprias mãos de relance. – Mas prefiro crer minimamente em
algo.
– Entendo... – Ela murmurou sem muita reação,
enquanto folheava os livros. – Por onde vamos começar?