Nota do Autor: Olá, aqui é o Tisso, autor da obra. Como já mencionei no Discord da Saikai, E6L já chegou em seu fim, praticamente todos os capítulos que forem lançados já foram feitos (não que antes tenha sido diferente, afinal eu comecei a postar tendo pelo menos 80 capítulos prontos). Em quesito de postagem, no site ele já está próximo a metade da obra e, a menos que eu mude soltamente de ideia, não vai haver alteração no numero de capítulos semanais, afinal não há motivos para o mesmo visto engajamento ou números de comentários estarem estagnados a tempos.
Sei que a obra vai ficar pequena aos padrões das outras obras do site, mas prefiro que termine assim do que a alongar a custo de nada. Também vale dizer que talvez outras obras minhas acabem por entrar no site, estarei apto a responder qualquer pergunta onde for, mesmo sabendo que talvez ninguém questione sobre nada como tem sido.
Enfim, desculpa o incomodo e segue o capitulo normalmente.
Medo. Um sentimento, fruto do
receio e da identificação de ameaça. No início da evolução, os deuses ensinaram
suas crias a terem medo para os guiar mais facilmente.
Uma
pessoa que tem medo de pular de uma grande altura, sobreviveria mais do que uma
que não possuísse tal capacidade.
Porém,
sempre há exceções.
Os
demônios pegaram de base existencial, distorções das figuras do medo alheio de
outros povos. Quando o golpe dado por Lúcifer em Belzebu, o anjo caído modificou
as crias demoníacas para que elas fossem fiéis a ele até mesmo que contra sua
vontade, lhes impedindo de ter medo.
Mas
ironicamente, houve a exceção na exceção.
Como
parte dos demônios se baseavam por possuir outros seres como parasitas, era de
se esperar que alguns vasculhariam as memórias da carcaça que carregavam ao
ponto de os compreenderem. Fora isso, demônios maiores e outros específicos
conseguiram quebrar essa barreira.
Tal
ato foi encarado de imediato como traição divina a Lúcifer, o que fez os demônios
cada vez mais se acostumassem a abaixar as cabeças e só seguir as ordens. Os
que tentaram aplicar uma revolução eram derrubados pelos agentes fanáticos do
anjo caído.
Histórias
como essas eram contadas como cantigas de roda em mundo a fora, possuindo até
variações como os Yōkai em Ortren, além de que, algumas eram relatadas em
livros que as expandiam no quesito de conteúdo.
“Não
ter piedade de demônios” era o que Cérbero sempre dizia. “Não importa se os
mesmos digam que se arrependeram de nascer ou algo assim, essa é a única raça
que não merece um pingo de perdão, mas temos casos a parte”.
“Demônios
são a raça mais complexa, sem dúvida” Contrapunha Ortros. “Eu não diria que
eles são os culpados de tudo, mas colocaria a culpa em seu mestre. Lúcifer
exala os pecados carnais em todos os contos que aparecem, certamente é uma
ameaça para qualquer um, mas ele tem seus traidores”
Quando
completou seus vinte anos, Aquiles conseguiu seu título como líder do Quarto
Esquadrão dos Cavaleiros Negros, junto disso, sua primeira audiência em
particular com os dois gêmeos.
–
Porque demônios não sentem medo? – Foi a primeira pergunta que ele fez aos dois.
–
Demônios sentem medo. – Cérebros respondeu friamente. – Demônios não podem
aparentar sentir medo, mas eles sentem.
Os
olhos do caçador ameaçavam o cavaleiro, naturalmente.
– Quer
um conselho para quando for lutar, garoto? – Cérbero perguntou de forma
marrenta. – Lute como um demônio.
Aquiles
podia ver o medo naquele ser, algo além da dor comum, ele estava frustrado consigo
mesmo, mas acima de tudo, com medo. Não sabia dizer sobre as vítimas de antes
de seu antigo grupo, mas aquele ser parecia ter um histórico profundo e de orgulho
em sua espécie.
O
cavaleiro arrumou vagamente a postura, sentindo uma leve dor no seu pé que,
devido ao pequeno deslize e a água salgada do mar, estava arranhado e latejando,
mas nada que ele não pudesse aguentar.
O
próximo objetivo do cavaleiro era tentar eliminar as duas pernas de seu
inimigo. Cortá-las uma por uma, igual ao que fora feito com o braço, seria
necessário cortá-las em um único golpe, mas não pelas juntas das pernas com a
pélvis e sim do tronco com a cintura.
Seu
tronco era cerca de duas vezes mais rígido do que seu braço, misturando vários
corais mortos, mas mantendo a forma humanoide.
Medindo
apenas ao olhar, a cintura do demônio não era tão grossa em comparação as árvores
de pedra, mas a teoria era que aquilo era no mínimo o dobro de vezes a
resistência de uma pedra normal.
Os
segundos que Aquiles ainda tinha para pensar estavam a se esgotar. Os gritos do
demônio estavam parando e o sangramento estava se estancando de algum modo
bizarro, mas nada estranho para um ser de tal raça.
Aquiles
agiu sem pensar naquele momento, apenas repetiu o que fez com as árvores de
pedra, correndo na direção do demônio e o golpeando na cintura com a espada
pesada, mas foi então, que a falha em seu agir sem pensar veio à tona.
O
romper da espada pesada veio naturalmente, cerca de trinta e cinco por centro
de sua arma quebrou e a lâmina despedaçou-se. Aquiles não ficou surpreso com
aquilo, seu foco ficou com o que ele ainda conseguia fazer com a espada que,
antes de se quebrar, conseguiu abrir um buraco pequeno na cintura do demônio.
Porém,
antes que o cavaleiro pudesse recuar para reestabelecer as forças, ele foi
surpreendido com um giro corporal do demônio, que arriscou um ataque descuidado
para acertá-lo.
O
punho possuía diversos corais espinhentos e afiados que acertaram Aquiles, de
tal forma que o mesmo foi perfurado duas vezes no abdômen.
Quando
se recuperou, um estilhaço em chamas caiu próximo de si, ateando fogo em suas
roupas que foram rapidamente tiradas e consumidas.
A
fumaça das chamas estava tomando conta do último andar lentamente, Aquiles conseguia
se mover livremente, mas a proteção que suas roupas lhe davam agora eram nulas.
O plano de sua mente ainda estava de pé, mas seu inimigo estava lhe encarando
com raiva.
A
espada poderia simplesmente aumentar o corte na cintura do demônio, mas um
segundo golpe com a mão de corais iria ser prejudicial agora – afinal, um golpe
descuidado já o perfurou de forma feia.
A
postura do elfo não deixava de estar firme a todo momento, mas sua visão agora
vagava por tudo que estava em volta.
Aquiles
precisava de uma forma de se ocultar novamente, ou pelo menos, uma forma de
confundi-lo de novo. A espada quebrada não cortaria o outro braço e a curta não
seria tão eficiente, logo as opções estavam a se acabar.
O
demônio, vendo o cavaleiro desviando o olhar, deu um passo em sua direção. Os
músculos da face se retraiam, enquanto seu olho brilhava perante o ataque que
faria, mas dessa vez, ele realizou um soco direto no chão, que ocasionou um tremor
momentâneo.
Porém,
Aquiles não se preocupou com os tremores, mas sim com as pedras que expeliam de
rachaduras abertas na madeira. Galhos, árvores e até mesmo as flores foram
expelidas, o cenário virou quase que um labirinto de zonas em perigosas.
A cada
passo, parecia que uma nova rachadura iria abrir para tentar rasgar novamente o
seu pé. Foi questão de tempo para que as pedras, que aparentavam não possuir
foco, agora estavam indo em direção a Aquiles por meios de expansão e criação
de galhos.
Aquiles
tomou fôlego e tentou encontrar uma rota segura – ou no caso, uma menos
prejudicial – para se aproximar de novo do demônio. Ele não sabia o parkour
como Varis, mas sabia pelo menos o básico que deveria fazer.
Saltando
entre o topo das pedras, rasgando seus sapatos de couro e machucando seus pés,
Aquiles chegou próximo do demônio, mas logo colocou a segunda parte de seu
plano à tona.
O
inimigo preparou uma defesa, mas se surpreendeu Aquiles passando direto para o
seu lado. Ele o acompanhou pela defesa por achar que ele o ia atacar pelos
flancos, mas não, o cavaleiro correu por cima das caixas e subiu rapidamente
para o andar de cima do navio.
O demônio
não entendeu o que o cavaleiro estava tentando fazer, mas logo o medo veio
novamente. Em meio ao fogo queimando e a estrutura se quebrando, ele sentiu e
ouviu os passos pesados de Aquiles. Em diversas direções ao seu redor, ele
ouviu socos e chutes fortes, muitos deles próximos as árvores de pedra.
Confuso,
irritado e com medo, o demônio aplicou sua magia para criar mais e mais galhos
e árvores, criando quase que uma cúpula de pedra ao seu redor. Foi então, que o
anteceder do golpe final foi dado.
O piso
de madeira foi destruído tantas vezes que qualquer movimento brusco o
quebraria, movimento esse dado por Aquiles.
O teto
ruiu para o demônio que via a madeira vagamente queimada caindo seu redor,
ficando sem reação por uma pequena fração de segundos. Ele não se moveu até
sentir a dor. A espada quebrada forçou novamente o corte em sua cintura, mas a
mesma quebrou novamente.
Nesse
segundo, ele conseguiu olhar para trás rapidamente, onde viu Aquiles dando um
giro em seu corpo e golpeando a cintura com a espada curta que finalizou seu
plano.
As
pedras da cúpula que se formaram a sua volta quebraram todas de uma vez, junto
de uma segunda mexida no navio, as pedras que o deixavam suspenso estavam a ruir
e aos poucos o navio iria afundar.
– Seus
esforços são surreais... – O demônio afirmou, desacreditado. – Mas você não tem
como escapar, se me deixar aqui vai ficar preso nas pedras até que eu me
recupere ou seus recursos acabem; Se continuar a me atacar, você apenas vai
fazer sua morte ser mais rápida.
– Hum,
se você diz. – Aquiles afirmou, tirando uns poucos pedregulhos que caíram em
suas costas.
Aquiles
pegou o braço do demônio junto de sua cintura a sangrar. O demônio se viu
inquieto e confuso, o elfo praticamente estava carregando seu corpo como uma
espécie de saco.
– O
que diabos está fazendo!? – O demônio questionou-se balançando seu corpo
vagamente.
– Apenas
o que seja o melhor pra agora. – Aquiles comentou, rindo vagamente enquanto
começava a dar seus primeiros passos carregando o demônio.
– Está
andando? – O demônio questionou, impressionado com as capacidades de Aquiles.
Aquiles
ficou rindo e respirando pela boca de forma ofegante. Quando chegou na
escadaria do navio, ele começou a exigir mais de seu corpo quando subia os
degraus.
Aos
poucos, o sangue expelido da cintura do demônio se tornou cristais atrás de
seus joelhos, o machucando quando os dobrava, mas mesmo assim ele continuou
firme e forte.
– Não
importa o que acontecer, você apenas vai morrer em alto mar! – O demônio rugiu,
balançando seu corpo, desestabilizando Aquiles por um breve momento, mas logo
ele se recompôs.
Após
subir até o andar de cima, Aquiles começou ofegar fortemente.
A cada
passo, ele sentia a madeira da escada ranger, depois de três degraus, elas
começaram a quebrar. Quando Aquiles chegou na linha de visão dos soldados que
estavam no primeiro andar, ele trocou olhares breves com Santana.
–
“Acerte-me!” – Disse com os olhares calmos e frios.
Santana
nada respondeu.
Quando
chegou no andar ele deu um passo a frente da escada e se virou de costas,
deixando o demônio confuso e cambaleando mais e mais.
–
Atirem com o canhão! – Santana ordenou.
– Mas
Capitã, o Aquiles...
– Vai desobedecer
a sua capitã?! – Aquiles respondeu confiante, apesar de cansado. – Se uma bala
de canhão não for o suficiente use duas. Se eu não sobreviver a isso, podem
dizer que todos os boatos sobre mim são verdade!
Os
soldados estavam receosos e com medo, mas, orientados por Santana, dois armaram
um canhão.
–
Atenção, preparar... – Santana comandou receosa, enquanto erguia sua espada
tremendo a mão. – Fogo!
O
barulho da pólvora explodindo só não foi maior do que a quebra da carapaça do
demônio culminado com seus gritos. Aquiles foi para frente devido o impacto,
mas seu corpo rapidamente o parou com a contrapartida de uma dor insana em seus
tornozelos.
– Não
foi o suficiente! – Aquiles gritou após reparar na diferença de peso do
demônio.
A bala
de canhão estava afundada na carapaça do demônio, envolta de várias rachaduras,
mas nenhuma que aparentasse ruir.
–
Preparem um segundo tiro! – Santana gritou após um pouco de silêncio.
Aquiles
se mantinha firme, mas não sabia por quanto tempo aquilo duraria. Entre o
carregar do segundo tiro, Aquiles sentiu o demônio se balançando e a alcançando
seu pescoço, efetuando uma mordida seca em sua pele que quase o fez cair.
– O
seu corpo é uma verdadeira tora viva, parece um maldito demônio! – O demônio gritou
com raiva enquanto o mordia.
–
Hum... – Aquiles murmurou sorrindo em meio as dores. – Obrigado, era essa a
intenção.
–
Preparar... – Santana ordenou novamente engolindo a seco a saliva. – Fogo!
A
segunda bala de canhão simplesmente rompeu ainda mais a carapaça do demônio,
fazendo-a despedaçar e expor seu interior grotesco.
Nesse
momento Aquiles sabia que seu trabalho havia sido feito. Ele caiu para frente,
soltando o braço.
–
Finalmente você.... – O demônio ergueu o braço para atacar Aquiles, mas logo sentiu
uma dor imensa em suas costas, que o fez gritar em agonia.
– Cala
a boca! – Santana gritou, despejando a água benta nas costas abertas do
demônio.
Aos
poucos, ele parou de gritar e lentamente se decompôs com um cheiro de coral apodrecido.
Santana
andou para perto do rosto de Aquiles e se agachou.
–
Então, quais as ordens, Capitão Aquiles? – Ela ironizou.
– O
navio desse mundo vai afundar, tentem agarrar o máximo de escombros e usem um
barco menor para chegar a costa, vão precisar apenas de uma semana no máximo
para o resgate, agora está tudo limpo nos arredores do oceano. – Aquiles falou,
quase desmaiando.
– Você
está satisfeito com isso que fez?
– Que
pergunta besta... – Aquiles murmurou, rindo vagamente. – Acho que pelo menos
foi satisfatório ajudar aqueles que eu não consegui, mesmo que num mundo falso.
– Essa
é a sua paz?
– Acho
que sim. – Aquiles riu, enquanto piscou rapidamente.
Quando
abriu novamente seus olhos, era como se seu mundo estivesse quebrado
completamente.
O
calor do navio foi substituído com o frio de uma masmorra, o ambiente naval
agora era uma prisão escura com algumas tochas de fogo azul.
O elfo
ruivo respirou e tentou se mover, mas logo percebeu que seus baços estavam suspensos
por correntes, deixando-os marcados e seu corpo a meio metro do chão.
Quando
ele olhou para os lados e identificou celas de mesmo tamanho que a sua, mas em
duas delas ele logo percebeu Edward e Varis, ambos nus e acorrentados. De
imediato ele sentiu um arrepio e extrema confusão do que estava acontecendo.
– Mas
o que porra é essa...!