– Será que isso tem utilidade?
– Varis se perguntou enquanto tateava e vislumbrava o truão que comprou no
final da noite de leilões.
– Você
comprou uma coisa que nem ao menos sabe o que faz? – Aquiles olhou com decepção.
– É
claro que eu sei, ele conduz magia. – Retrucou, tirando a visão do item. – Agora,
como eu faço para isso acontecer é a dificuldade.
– Para
treinar magia, você vai precisar de no mínimo uns cinco anos. – Comentou
estressado. – No seu caso, eu daria uns sete, ou isso ou um milagre ou um
período grande de treino.
– Eu
consigo aprender até o dia da luta no torneio?
– Por que
está perguntando isso? É praticamente impossível e você sabe disso.
– Não
é provável. – Varis contrapôs. – Aliás, eu esqueci de te falar uma coisa.
– Hum?
– Todo
mundo está te esperando na pousada porque o Voltten descobriu que quando um
escolhido morre, os outros ganham o poder dele, assim sucessivamente até Tac
Nyan reencarnar totalmente. – Varis guardou o truão na mochila. – Eu não posso
dizer, mas chuto que o Edward vai estar meio irritado com o fato de a filha
dele ser um dos escolhidos. E com os demônios supostamente querendo matar todos
para pegar a reencarnação completa e conosco fazendo o trabalho de recolhê-los
para eles...
O
ladino foi parado pelo cavaleiro, que não só o pegou pelo ombro, como também o imobilizou
pelo pescoço, enquanto o levava ao encontro a parede mais próximas.
– Como
vocês ficaram sabendo disso!? – Ele perguntou com fúria no olhar enquanto
encarava o ladino.
– Faufautua
contou como os sistemas de deuses, reencarnações de semideuses funcionava. Ele
fez a relação e me passou por escrito. – Varis falou, pegando no braço exposto
de Aquiles. – Ele também queria falar com Edward e James em particular antes de
falar para você, porque achava que toda a equipe precisava saber.
Em um
movimento rápido, Varis tateou o braço do cavaleiro e pressionou um ponto que
fez um choque nervoso no membro de Aquiles. Com isso, ele soltou Varis
institivamente, o mesmo deu alguns passos para o lado.
– E o
Glans, ele sabia disso? – Aquiles perguntou, se virando para o amigo que carregava
o machado como se ele fosse um escudo ao mesmo tempo que desviava o olhar.
–
Glans sabia que não era bom falar sobre... – Ele falou sem jeito.
–
Deixa o cara, deve ter sido difícil para ele. – Comentou de relance.
– Você
planejava me contar isso antes de chegarmos ou alguém te pediu para isso? –
Aquiles olhou para Varis, que estava se recompondo.
– Essa
informação não vai ser muito importante, eu acho. Era eu falar agora ou eles
lhe falarem depois. – O ladino riu um pouco. – Chuto que ter falado isso
antecipadamente torna as coisas mais fáceis.
– Quer
perguntar alguma coisa em particular, já que estamos aqui?
Varis olhou
em volta, as casas e bares encerrando suas atividades, as luzes apagando e as
pessoas cada vez mais raras.
– Sinceramente,
eu já esperava que eles iriam pirar quando conhecesse a real forma de Tac Nyan
reencarnar. Trabalhar com o sobrenatural me marcou algumas informações. – Varis
afirmou isso cheio de si, enquanto voltava a caminhar para a pousada que estava
todo o grupo. – Mas estou curioso sobre seus comentários sobre.
–
Vamos... – Aquiles acenou para Glans.
O
caminho silencioso terminou quando eles entraram na pousada, Varis abriu as
portas e Glans, sem a intenção, bloqueou o caminho de saída. Quando entrou no quarto,
ele viu o círculo se formando no meio do quarto médio que eles haviam alugado.
Edward
era o foco, querendo ou não, sua armadura refletia a luz local e sua posição
sentada aos pés da cama central com o rosto apoiado em sua espada do lado de
seu escudo chamava todos os olhares, isso se somava a sua face séria e quieta,
apenas a esperava um momento para atacar com algum contra-argumento.
Voltten,
como quem causou tudo aquilo, estava nervoso, olhando para todos os cantos
possíveis. Sentado em sua cadeira e sem nenhum adereço além de suas roupas e
seu manto branco, que tentava se esconder. Sentado à esquerda de Edward, ele
tentava manter a postura.
À direita,
escondido nas sombras, James os observava em uma cadeira virada ao contrário,
com os braços cruzados bloqueando parte de sua face.
Varis
rapidamente se pôs ao lado da porta, se escorando na parede apenas esperando a
corte prosseguir. Varis rapidamente puxou uma cadeira de forma malabarista e
olha suavemente para Aquiles.
– É
melhor você se sentar. – o ladino comentou com um sorriso brilhante, como se
estivesse prestes a assistir o show mais interessante do mundo. O cavaleiro
concordou e ficou encarando o ladino e o mago, em especial.
Glans
ficou indiferente, apenas querendo ver o que iria acontecer. Ele sentou-se numa
cama sem dizer uma palavra ou mudar a expressão neutra em nenhum momento.
Os
três ficaram se encarando até que Aquiles tomou a iniciativa.
–
Então... – Aquiles tossiu um pouco.
–
Então? – Edward comentou em seguida, não possuía raiva em sua fala, apenas
frieza.
Voltten
começou a tremer e grunhir mais e mais com o tempo de tão nervoso que estava.
–
Só... fale que você tem um plano... – ele murmurou encarando seus joelhos. –
Estamos apenas reunindo eles para ambos sermos abatidos?
O silêncio
foi instaurado novamente, enquanto os três voltaram a se encarar. Aquiles e
Varis observavam aquilo aguardando seu declínio, enquanto Glans não tinha
intenção de fazer nada.
–
Vocês conhecem a “Lua de Sangue? ”. – Aquiles perguntou de forma tão fria
quanto Edward.
– Hum?
– Edward murmurou intrigado.
– É um
evento também chamado de “Período Fértil Demoníaco”. Basicamente, é um evento
que ocorre com intervalos médios em escalas anuais. Nele, os demônios focam em
conseguir alimento e energia para que, depois de mais um ano, os demônios derem
à luz a mais e mais demônios. – James afirmou de forma direta, chamando a
atenção de todos. – Em resumo é um período em que todos os demônios ficam
grávidos e têm filhos, tudo em uma data específica. O período de parto dura em
torno de nove a doze meses aproximadamente.
– Suas
afirmações estão quase totalmente corretas, só não posso corrigir os detalhes
porque não lembro eles de cabeça. – Aquiles afirmou rapidamente. – Basicamente,
entramos em período de Lua de Sangue ano passado, nesse exato momento, os
demônios estão em período de gravidez. Talvez isso justifique o fato deles não
atacarem a gente com frequência, mas isso é detalhe.
–
Quando esse período acaba? – Edward questionou.
– Próximo
ao final do ano, mas claro que não iriamos manter os seis no mesmo local só por
isso.
– Hum?
– Voltten murmurou tenso e intrigado.
–
Estávamos com planejamentos para isso. – Aquiles comentou de forma serena. – Se
as datas baterem, quando voltarmos eu e Glans vamos para Artit resolver os
problemas e tratados referentes a sua tribo.
– Oh!
– Glans finalmente se mexeu.
– Após
isso, o plano seria levar pelo menos três dos seis para Monssolus em uma escolta com Parysas e Cérbero o mais rápido possível.
– E com
relação a nós? – Varis questionou intrigado.
– Bem, é
o fim da jornada, quando reunirmos os seis a missão acabou. – Aquiles afirmou
de forma pensativa. – Não queria adiantar as surpresas, mas me disseram o que
vai acontecer.
–
Surpresas? – todos questionaram ao mesmo tempo.
– No caso
de Glans ainda é uma incógnita devido aos tratados, mas vocês estarão livres no
mundo novamente, Varis e James. – O espanto do elfo negro foi visível, apesar
do mesmo tentar mascarar aquilo. – O mesmo vale para vocês, Edward e Voltten,
mas todos vão ter um espaço no reino se trabalharem.
– Em resumo,
eu ainda vou poder treinar com Parysas e viver no castelo com Crist? – O
paladino perguntou.
– Eu
queria evitar falar isso para você principalmente, sua própria filha corre o
risco ser atacada e que a morte dela pode se tornar a reencarnação de seu Deus.
– Aquiles comentou. – Ou pior, a existência prolongada dela condena a mesma a
virar um Deus que será caçado pelos demônios.
– Existe
uma forma de retirar a parte da reencarnação dela?
– Se soubéssemos,
já teríamos feito.
– Entendo...
– Edward murmurou com desgosto e rodeado de pensamentos negativos.
– Com
licença. – Varis tomou a atenção, dando passos a frente e ficando próximo a
James. – Eu tenho uma coisa pra anunciar e um pedido.
– Pedido?
– Todos questionaram.
– Essa
vida de castelos, elite e guardas amigos não é pra mim. Já estou discutindo com
Sagita sobre isso com cartas e, já que vou ser supostamente liberado, eu quero
falar que já estava planejando onde ir depois disso tudo. – Varis rapidamente virou
para Voltten e o encarou de forma fixa. – Então acho melhor você adiantar um
pouco os fatos.
Todos
viraram para Voltten institivamente, com dúvida do que poderia envolver o elfo
certinho e disposto do grupo.
– Do que
você está falando? – Ele perguntou meio trêmulo e intrigado, abandonando a
postura tensa devido as explicações de Aquiles.
– Não
daquela coisa menor, da coisa que deveria acontecer antes da coisa menor. –
Varis tentou falar em código para Voltten captar.
– “Aquela
coisa” seria?
– Você
sabe... – Varis enrolava enquanto mascarava o real assunto. – “Copulação”.
No exato
final da frase James, Aquiles e Edward olham de forma estranhas para Varis
enquanto Voltten entendia do que se tratava tudo.
– Que...?
– James questionou confuso
– Você
trouxe isso à tona... – Voltten murmurou de forma quieta. – Eu sei o que eu
falei e dos seus planos, é justo eu tentar fazer isso rápido...
Todos
voltaram a atenção para Voltten.
– Poderia
ser um pouco direto? – Aquiles perguntou um pouco confuso.
– É que
tipo, eu estava tendo uns casos e descasos, logo veio o pensamento em uns meses
atrás e...
– Você
pode ser mais direto? – Varis murmurou com um tapa moral.
Os dois
ficaram se olhando por segundos, Varis não tinha más intenções, apenas queria resolver
os problemas com os amigos antes de uma despedida geral. Voltten compreendeu
isso.
– Eu
planejo me casar. – Ele falou rapidamente, só isso foi o suficiente para
desestabilizar todos no local, claro que excluindo Varis.
– Espera,
o que!? – Edward deixou a espada e o escudo para se jogar na frente do elfo,
ficando junto a Aquiles que fez o mesmo.
– É uma
coisa meio complexa... – ele tentou se explicar enquanto Varis pegou a cadeira
de Aquiles e se sentava igual a James que ficou só observando junto ao ladino.
– Espera,
Sansa!? – Aquiles afirmou, questionando aproximando seu corpo ainda mais de
Voltten.
– Pois
é...
– Isso,
isso é algo curioso. – Edward comentou, deixando a pose séria para algo mais
inspirador com leves travadas. – Compreendo essa fase de sua vida, meus
parabéns... eu acho...
–
Obrigado...
– Aliás
Aquiles, Sansa não é sua amiga de infância? – James questionou isso de forma
pensativa.
– De onde
você tirou isso? – Aquiles perguntou intrigado.
– Ela não
é tipo uma “princesa” do país vizinho?
– Ela não
tem relação com a realeza, mas eu nunca vi Sansa sequer como amiga na verdade.
– Aquiles afirmou de forma irrelevante. – No máximo, eu já conversei sobre
assuntos políticos algumas vezes, mas eu nem ligo para a existência dela quase...
– Ele parou quando notou que suas palavras soavam de forma rude, ele se virou
para voltem e completou. – Sem ofensa.
– Não é
muito como se eu me ofendesse, é mais ela que se ofende. – Voltten comentou. –
Aliás, já que estamos tendo todos esses contratempos, você poderia chamar
Hermes para discutir melhor isso com ela? Já que os planejamentos não nos
permitem termos todos juntos de forma rápida, pelo menos seria bom ter a cerimônia
quando chegarmos.
– Chamar
o Hermes para isso é meio ruim, ele é a principal forma de comunicação entre
Civitas e Artit, fora que, ele é único e não existe um segundo Hermes para
suprir a perda de tempo.
– Então
eu vou ter que arrumar um outro meio...
– Eu não
falei isso. – Aquiles interrompeu. – Faça uma mensagem única que eu o chamo,
você entrega as cartas e fica por isso, você não vai ter respostas, apenas uma
mensagem do tamanho que você queira.
– Falando
assim parece que ignoramos os problemas com os escolhidos. – Varis comentou de
forma cômica, mas com isso ele instaurou o clima tenso Edward e Aquiles.
– Os
planos são levar três para Artit e manter três em Cartan, certo? – O paladino
questionou de forma direta.
– Sim, os
três vão ser escoltados por Cérbero e Parysas, os dois supostamente já irão
estar em Cartan quando chegarmos. Mantidos sob os cuidados de Sansa e Ortros. – Aquiles respondeu em mesmo tom.
– Existem
preferidos entre os grupos?
– Tirando
o escolhido que está com Merlin, todos os grupos podem ser manipulados. A ideia
era mandar Bellator de volta para Artit e manter Ertiaron e o associado
a Merlin em Cartan.
– Eu
quero exigir que Crist vá para Monssolus e que
eu também vá na escolta.
Aquiles
logicamente percebeu que o paladino exigiria a melhor opção em segurança que
era a sede dos Cavaleiros Negros e o Primeiro Esquadrão dos mesmos.
– Não
tenho objeções, pelo contrário, defenderei sua voz até que ela seja ouvida.
– Os dois
falando bonito é sinal que não sabem o que fazer. – Varis murmurou em deboche –
Mas é um bom plano, não que eu me importe
Os dois
riram das palavras do ladino falastrão. Logo Aquiles estendeu a mão para Edward
em sinal de confiança, o mesmo o cumprimentou, agarrando seu antebraço de forma
confiante.
– Aliás,
o torneio vai começar logo, é melhor nos prepararmos rápido. – Voltten cortou o
clima.
– Varis,
conseguiu as bombas? – Edward perguntou.
– Já
estão sendo feitas. – Ele respondeu rapidamente.
– Eu
preciso de selos para conseguir aplicar melhor os efeitos do livro. – James
comentou.
– Faufautua
disse que ia nos ajudar nisso, então só precisamos falar com ela. – James respondeu
enquanto cruzava os braços confiante. – É só a gente planejar bem.
– Eles
vão revelar a lista de participantes e a ordem deles em pouco tempo. – Voltten
afirmou pensativo. – Eu tenho anotado os soldados destaque para análise.
– Temos
algo grande para essa vez. – Edward afirmou. – Vamos ganhar essa vaga!